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Fantasy é um jogo de teto

Esta temporada é um enorme contra-argumento a um dos conceitos que eu mais gosto no fantasy, o de consistência, posto que tantas lesões, casos de COVID e más atuações fazem com que poucos sejam titulares indubitáveis.

Este artigo é mais um estudo para demonstrar um dos caminhos de sucesso, e eu espero que você entenda a mensagem explicada com dados concretos e de muitas temporadas.

Numa conversa com meu irmão e co-fundador do BrFF, Caio Ribeiro (um dos maiores pensadores de fantasy football que esse país já viu), falávamos sobre essa temporada e o quanto perseguir consistência não foi uma estratégia eficaz.

Num ano assim, basicamente só importa pontuar o máximo possível semana a semana, seja como for. Ou seja: perseguir o teto, mais do que a consistência.

Consistência nunca foi sobre teto, como nós aqui no BrFF bem sabemos desde o começo de nossas análises, mas sobre jogadores alcançarem resultados satisfatórios semana sim, semana também. Porém, 2021 quebrou essa abordagem e deixou seus admiradores (como eu) na lama.

Portanto, é hora de voltar à prancheta e pensar no próximo estudo, que, em nosso caso, é qual pontuação melhor indica os jogadores que queremos e vão acumular mais pontos ao longo da temporada, e, por mais óbvio que pareça, isso é o teto, ou seja, a pontuação máxima de um jogador.

Se você não quer entender a lógica e ir direto aos resultados, clique aqui.

Para este estudo, considerei jogadores com, no mínimo, 2 jogos com 40%+ de snaps ofensivos jogados numa temporada entre 2012 e 2020 (para eliminar jogos anômalos, como aqueles em que um jogador se lesiona cedo).

Mais uma vez eu me valho de um conceito estatístico para ligar os pontos desse artigo: com vocês, o…

… Coeficiente de determinação

O R², como também é conhecido, é uma medida que nos diz a variação de uma variável em relação à outra, ou seja, o quanto um fenômeno y é explicado pela variável x. No nosso caso, x são o teto / o piso / a média de pontos de um jogador nos jogos selecionados (40%+ snaps jogados), e y é a soma de pontos do jogador (nos mesmos jogos).

Quanto mais próximo de 1, mais explicável é o fenômeno y por x, e quanto mais próximo de 0, menor a correlação entre x e y.

Quarterbacks

Entre os 442 casos de QBs avaliados, o R² foi:

  • Teto: 0,65
  • Piso: 0,03

Ou seja, o teto de um jogador se relaciona ao total em 65% dos casos, sendo, entre as três medidas, a que melhor aponta um jogador melhor. O piso naturalmente nada explica, pois, várias são as razões para um jogador anotar 0 pontos (lesão, pouco ou nenhum volume, força do adversário, etc.), e a média apenas junta os vários resultados num só número.

Running Backs

Foram 663 ocasiões de running backs atendendo aos critérios. Eis os números:

  • Teto: 0,60
  • Piso: 0,008

A correlação teto-total diminui um pouco nos RBs, enquanto o piso se distancia ainda mais de dizer a qualidade dum jogador. Um bom running back, na prática, tem volume garantido, sobretudo em bons ataques, o que o aproxima de pontuações maiores que a de jogadores com menos toques na bola.

Wide Receivers

1375 ocorrências foram encontradas aqui.

  • Teto: 0,72
  • Piso: 0,12

Para os wideouts, o teto (72% de explicabilidade) é ainda mais importante que para QBs e RBs, mas o piso “melhora significativamente” em relação a corredores e QBs. Ainda assim não é sequer de longe motivo para determinar um bom jogador pro fantasy.

Bons recebedores podem ter jogos completamente nulos (vide aqueles que enfrentam a defesa de New England, para dar apenas um exemplo), por que julgar um stud por uma partida dessa? Já uma partida monstruosa não vem numa jogada de sorte (uma recepção de 99 jardas para TD resulta em 16,9 pontos PPR, um fato raríssimo), mas num conjunto de fatores (volume excessivo, grande jardagem e TDs), coisa que só os melhores podem fazer por você e mais de uma vez!

Tight Ends

735 tight ends alcançaram 40% dos snaps do ataque ao menos duas vezes numa temporada.

  • Teto: 0,74
  • Piso: 0,12

A maior correlação entre teto e média apareceu aqui, entre os tight ends: 74%. O piso, como nas outras posições, ficou bem baixinho como possível explicação da nossa teoria.

Convenhamos que não é qualquer grandão que um técnico acha no meio da rua que corre rotas bem e sabe pegar a bola várias vezes e anotar TD(ssssssss). É necessário ser um jogador diferenciado para jogar essa posição e ainda ser prolífico no fantasy semana sim, semana também.

Conclusão

Acredito que ficou muito claro o quanto o potencial de um jogador para a temporada se mede pelo seu teto e não pelo seu piso. Num ano como 2021, em que a sorte é um fator tão preponderante, temos que minimizá-la com os jogadores de maior teto possível e repetível, de modo que possam compensar semanas ruins de outros titulares de nossos times.

Consistência ainda mostra jogadores que valem a pena ter em nossos elencos. No entanto, eles nem sempre vencem jogos sozinhos, como os studs. Quanto mais studs, mais teto; quanto mais teto, mais vitórias.