Fantasy É um Jogo de Teto, Parte II

Se fantasy é um jogo de teto, a maior pontuação é o melhor recorte disso? Aqui proponho um método para analisar o teto de um jogador sob uma ótica diferente. Quando abordei o teto dos jogadores pela primeira vez, minha premissa era relacionar a maior e a menor pontuação à média numa temporada. E lá ficou constatado que a maior pontuação, ou seja, o teto, era a melhor medida. Por outro lado, embora seja incomum que um jogador qualquer repita valores máximos como os melhores do fantasy, esse valor máximo tem a probabilidade não-nula de ser um outlier, ou seja, um valor discrepante dos demais (da mesma forma o valor mínimo). A partir disso (e de uma recente discussão levantada por Jordan McNamara acerca de consistência vs teto), tive a necessidade de estudar mais a fundo o que eu havia visto em 2021. Primeiro eu repeti as observações; depois procurei estudar um pouco mais o conceito de R² (coeficiente de determinação), e passei a me familiarizar com outro termo, chamado de… O termo resíduo nada mais é que a diferença entre a média e o valor esperado (aqui a média esperada), tendo como referência uma variável independente (em nosso caso, a média real de um jogador). Com isso, e observando os percentis múltiplos de 10 (de 0 a 100) das pontuações de jogadores qualificados* entre 2012-2023, cheguei aos seguintes resultados (o intervalo do R² se aplica às várias posições entre QB, RB, WR e TE): MedidaR²ResíduoMínimo0.45 - 0.58Linear (descendente)10p0.71 - 0.77Linear (descendente)20p0.78 - 0.84Linear (descendente)30p0.86 - 0.88Linear (descendente)40p0.87 - 0.90Linear (descendente)50p0.87 - 0.92Linear (descendente)60p0.89 - 0.93Linear (descendente)70p0.88 - 0.93Aleatório80p0.86 - 0.91Aleatório90p0.80 - 0.89AleatórioMáximo0.58 - 0.73AleatórioTabela comparativa de R² e resíduo. Segundo a bibliografia, um padrão desejado para a dispersão entre as observações (eixo x) e o resíduo (eixo y) é um gráfico aleatório. Tem-se, portanto, que as pontuações mais confiáveis para conhecer a “média real” de um jogador estão entre os percentis 70 e 90, visto que, além do R² alto, também possuem um padrão de resíduos aleatório. Com isso, este artigo convenciona piso como a média dos valores abaixo do 70º percentil de pontuações de um jogador, e teto como a média dos valores acima do 90º percentil do mesmo conjunto. Vamos então observar como isso se aplica na prática com a atuação de alguns jogadores em 2023. Josh Allen — Em ligas comuns, de escalação rasa, a pontuação de um QB elite pode ser a diferença entre uma vitória e uma derrota, dada a maior importância das posições em que se escala um (1) representante. A proeminência de Allen nos últimos anos é notável. Ninguém ofereceu piso (19.5) e teto (38) maiores que ele ano passado. Patrick Mahomes — Um 2023 em que a defesa fez muito pelos Chiefs (e deve continuar a fazê-lo) mostrou uma versão mais, digamos, modesta de Mahomes que, apesar de ter feito um jogo de 33 pontos, na prática entregou tanto ou menos que outras opções mais baratas que haviam no draft (Stroud, Prescott, Purdy, Love…). Christian McCaffrey — Como evitá-lo na 1.01? Jogando superflex. Em ligas 1QB, não tem como descartar um teto tão previsível e repetível. Da mesma forma que Josh Allen, piso (20) e teto (45) acima dos demais em 2023. Travis Etienne — Pouco se fala sobre o quão boa foi a última temporada de Travis Etienne, e é possível que ele repita os bons números, que não foram exagerados como os de CMC, Kyren, Breece e a dupla de Miami, Mostert/Achane. O piso de 12 pontos é honesto e o teto de 30 é para poucos. Rachaad White — Embora tenha sido eficaz no jogo aéreo (8 PPG), o volume salvou White no jogo corrido, tendo sido um dos RBs menos eficientes por corrida (3.6). A adição de Bucky Irving por parte dos Bucs pode tirar parte do seu volume e prejudicar o piso (12.3) e o teto (24.9) que teve ano passado. Chris Olave — Ao mesmo tempo em que representa valor no draft, Olave é um jogador que carece de maior teto (21), assim como aconteceu com Garrett Wilson, seu companheiro de classe (vide link acima). É justo afirmar que ter um jogador com piso de 11.8 é valioso, porém, como jogador que costuma sair na segunda rodada de redrafts 1QB, seria muito desejável que ele fosse um segundo maior pontuador mais prolífico entre nossos não-QBs. Recebedores de Green Bay — Diante de tamanha incógnita sobre qual dentre Christian Watson, Romeo Doubs, Jayden Reed e Dontavyon Wicks vai sobressair, vemos que o piso mais atrativo está em Reed (9.2) e o teto em Watson (27.6), algo no intervalo de Jaylen Waddle (10.3, 26.6) e DK Metcalf (11.1, 28.9). Com isso, investir em elenco buscando Doubs (WR51 no ADP) e Wicks (WR68) é mais vantajoso para obter semanas esporádicas de teto a um preço convidativo, especialmente em best ball. Sam LaPorta — O ex-calouro é mesmo o cara e merece a discussão sobre ser ou não o primeiro tight end a sair da board. Ele conquistou o maior piso (9.6) e teto (28.8) de um tight end novato da série histórica. Fica difícil imaginar que ele tenha uma segunda temporada pior do que já mostrou em 2023. Travis Kelce — Não poderia falar de LaPorta sem falar do tight end mais sólido que o fantasy football já viu até hoje. O único a desafiar a estrela dos Lions teve o maior piso e teto em 2023 na posição (10.8, 35.9). A grande reclamação do público pairou em torno dos vários jogos “fracos” que teve Kelce na última temporada que, ainda assim, foram melhores que a vasta maioria dos colegas. Com isso, a única dúvida que paira sobre Kelce reside mesmo no preço no draft para ter o craque em nossos times. Dalton Kincaid — Apesar de uma temporada de calouro satisfatória, Kincaid não teve um teto (17.5) muito alto sequer quando comparado a outros calouros (desde 2012). Mais um ano de experiência e a saída de Stefon Diggs dos Bills podem dar a ele o espaço para evoluir e mostrar um desempenho compatível com seu piso (6.34, que sugeriu um teto de 20.3). De posse desses recortes, acredito que podemos ver com clareza o patamar que os jogadores da NFL podem nos entregar no fantasy (com base nas circunstâncias em que jogaram). Uma possível aplicação dessa informação é na criação de prateleiras, por exemplo. A seguir, os dados trabalhados que nortearam este artigo. * Jogador qualificado: jogador que alcançou alguma das seguintes marcas numa temporada: 160+ passes tentados; 140+ corridas; 15+ alvos (running backs, tight ends); 30+ alvos (wide receivers).

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