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FantasyPros: ADP vs Produção

Para quem é assinante do site, esse tipo de trabalho já é conhecido nos posts de comparação entre ranking posicional no ADP mais recente do Sleeper com a produção histórica do correspondente ranking (PPG) dentro de uma posição. A diferença aqui é que faremos uma comparação entre ranking posicional do ADP vs ranking posicional de fim de temporada e a) explorar causas e b) buscar possibilidades futuras de acertos.

Contexto e Notas Gerais

Um post de Jeff Bell me inspirou a fazer esse trabalho; nele, Bell evidencia os RBs que saíram em certa faixa de draft (a agora famosa RB dead zone):

Procurei então saber o tamanho da decepção quando cruzamos expectativa (ADP) e realidade (produção). O FantasyPros disponibiliza ambas informações, as quais reuni desde 2015 para ilustrar o cenário que vamos explorar aqui.

A metodologia deste artigo buscou classificar as surpresas e decepções da seguinte forma:

  • Grandes decepções: 6 ou mais pontos abaixo da expectativa do ADP;
  • Decepções: até 3 pontos abaixo;
  • Surpresas: entre 3 e 6 pontos acima;
  • Grandes surpresas: acima de 6 pontos.

A classificação acima é semelhante à utilizada por JJ Zachariason em seus trabalhos.

Lesões atuam diretamente na expectativa de cada posição de habilidade no fantasy: em geral, jogadores que ficam 6 ou mais pontos abaixo da expectativa do ADP se lesionam antes da temporada ou perdem 50% ou mais dos jogos de seus times.

Glossário

  • RP — rushing points.
  • TD% — TDs de passe / tentativas de passe.

Quarterbacks

Até 2017, buscar os prováveis candidatos a MVP era o melhor caminho para encontrar o sucesso no fantasy entre QBs. A outra opção era Cam Newton, que marcava muitos pontos por terra e ar.

Em 2018, começam a vir as safras de QBs sucesores de Newton, com o mesmo “Konami code”: Lamar Jackson, Josh Allen, Kyler Murray, Jalen Hurts e Justin Fields. Com isso, os pocket passers passaram a ser um investimento mais dependente de grande eficiência aérea (jardas e TDs por tentativa de passe).

Algumas decepções se destacam por mudanças no corpo técnico, a saber:

  • Matt Ryan, 2017 (Kyle Shanahan, ex-OC, foi contratado pelos 49ers para ser seu HC);
  • Matthew Stafford, 2018 (Matt Patricia sai de NE para ser HC em Detroit);
  • Baker Mayfield, 2019 (Freddie Kitchens foi elevado de OC para HC).

Todo ano no fantasy temos surpresas, mas que elementos mais produzem os chamados breakouts entre QBs?

  • Jogo  corrido — Cam Newton, Lamar Jackson, Josh Allen, Kyler Murray, Jalen Hurts e Justin Fields são os casos mais destacados em que um QB jovem e não-provado, sendo um corredor pode retornar valor mais fácil que outro que dependa mais de TDs e cuidado com a bola.
  • Eficiência aérea — Superar os 5 TD% numa temporada é o outro (e mais difícil caminho) para acertar um bom QB no fantasy.

A combinação dos dois fatores acima é rara e característica de jogadores (quase sempre) especiais:

  • Cam Newton — Em 2018 ele obteve o feito no seu último bom ano de Carolina Panthers (5,1%, 5,2 RPs).
  • Deshaun Watson — Entre 2017 e 2019 ele produziu três temporadas consecutivas como um unicórnio.
  • Lamar Jackson e Josh Allen — Desde 2019, ao menos um deles entrega produção de elite por terra e ar.
  • Marcus Mariota — A bem da verdade, ele está aqui pelos jogos que fez em 2022 pelos Falcons, porém o trabalho como passador foi de pouco volume apesar da eficiência.

Decepções: Matt Ryan (2017), Matthew Stafford (2018), Baker Mayfield (2019).

Surpresas: Cam Newton (2015), Matt Ryan (2016), Carson Wentz (2017).

Grandes surpresas: Patrick Mahomes (2018), Lamar Jackson (2019), Dak Prescott, Josh Allen, Rodgers (2020), Tom Brady (2021).

Quem procurar em 2024: Jayden Daniels é a principal promessa de jogo corrido em seu ano de calouro, com a expectativa de jogo aéreo baixa, como é comum pensar daqueles que chegam ao nível profissional; Brock Purdy ainda é negligenciado como QB11, talvez por os GMs terem medo de confiar num “Mr. Irrelevant” ou de Purdy tropeçar numa regressão à média que o faça ser ineficiente ao ponto de se tornar irreconhecível após uma temporada e meia de comprovada competência.

Running Backs

A posição, outrora a mais importante do joguinho, agora perdeu o posto para a de wide receiver, considerando diversos fatores discutidos pela comunidade do fantasy: suscetibilidade à lesões (e consequente substituibilidade), configurações que privilegiam outras posições (PPR, TE Premium, mais slots flex…) etc.

Os times da NFL estão reduzindo a dependência de workhorses em favor do uso de comitês, o que diminui ainda mais o potencial de teto desses jogadores, mas ajuda-os a preservarem sua saúde por mais tempo.

Lesões à parte, algumas decepções podem ser atribuídas a fatores além do jogador:

  • Melvin Gordon (2015) —Danny Woodhead limitando snaps;
  • Eddie Lacy (2016) — forma física / luta contra sobrepeso;
  • Todd Gurley (2016) — Jared Goff em ano de calouro;
  • Le’Veon Bell (2018) — greve;
  • Royce Freeman (2018) — Phillip Lindsay (undrafted) foi o RB1 de Denver naquele ano;
  • Dalvin Cook (2023) — Breece Hall teve uma rápida recuperação da lesão no joelho sofrida no ano anterior.

Passadas as dores de jogadores que não entregaram o prometido, onde está o sucesso entre os backs?

  • Jogo aéreo — Entre 140 jogadores qualificados* que marcaram 15+ PPG desde 2012, 70 (metade) anotou 7+ PPG em recepções. A outra metade marcou 5.2 PPG pelo ar, o que mostra a importância crucial de um RB ser um alvo para estar no topo.
  • Volume extremo — Sem pegar passes, é preciso correr muito (15+ tentativas) para ter acesso a produção alta (aqui falamos dos mesmos 15+ PPG).

Uma espécie em extinção no fantasy é o “puro corredor”, ou seja, o running back raiz que pouco pega passes. De 2012 para cá, no máximo três corredores por ano alcançaram 10 PPG com menos de 2 PPG recebendo passes. Das 17 ocorrências desde 2012, somente uma não se explica por um QB móvel ou um RB recebedor dividindo o backfield:

  • Alfred Morris (2012, 2013) — Robert Griffin III (QB móvel);
  • Stevan Ridley (2012) — Danny Woodhead (RB recebedor);
  • Frank Gore (2013) — Colin Kaepernick (QB);
  • Jeremy Hill (2015) — Giovani Bernard (RB);
  • LeGarrette Blount (2016) — James White (RB);
  • Jonathan Stewart (2016) — Cam Newton (QB);
  • Derrick Henry (2018)  — Dion Lewis (RB);
  • Sony Michel (2018) — James White (RB);
  • Marlon Mack (2019) — Nyheim Hines (RB);
  • Derrick Henry (2020) — Volume extremo (378 carregadas);
  • Ezekiel Elliott (2022) — Tony Pollard (RB);
  • Jamaal Williams (2022) — D’Andre Swift (RB);
  • Miles Sanders (2022) — Jalen Hurts (QB);
  • David Montgomery (2023) — Jahmyr Gibbs (RB);
  • Gus Edwards (2023) — Lamar Jackson (QB).

Outro tipo, ainda mais raro, de bom RB para fantasy é o “puro recebedor”, ou seja, aquele “running” back especialista em pegar passes. Apenas quatro deles passaram de 10 PPG anotando menos de 2 PPG pelo chão:

  • Lance Dunbar, Theo Riddick (2015);
  • James White (2016);
  • Tarik Cohen (2019).

A juventude, embora não seja determinante, é evidente na posição de running back: calouros e segundanistas frequentemente surgem entre os maiores pontuadores numa temporada.

Decepções: Melvin Gordon (2015), Eddie Lacy, Todd Gurley (2016), Le’Veon Bell, Royce Freeman (2018), Dalvin Cook (2023).

Surpresas: David Johnson (2015), Tevin Coleman (2016), Tarik Cohen (2018), Tony Pollard, Rhamondre Stevenson (2021), Kenneth Walker (2022), Jaylen Warren (2023).

Grandes surpresas: DeVonta Freeman (2015), LeGarrette Blount (2016), Alvin Kamara (2017), James White (2018), Austin Ekeler (2019), Antonio Gibson (2020), Tony Pollard, Jamaal Williams (2022), Raheem Mostert, De’Von Achane (2023).

Quem procurar em 2024: Jaylen Warren já era relevante nos Steelers de Matt Canada e pode ser ainda mais com Arthur Smith, novo OC de Pittsburgh, famoso por enfatizar os running backs de seus ataques. Warren é pegador de passes e pode aumentar seu teto este ano em condições ideais; Jonathon Brooks, apesar de se recuperar de lesão sofrida no college, deve ter um papel relevante na segunda metade da temporada dos Panthers.

Wide Receivers

A posição de wide receiver se resume em uma palavra: talento. Todo número que se tenta espremer a fim de predizer o sucesso de um recebedor é consequência de sua habilidade mental e atlética de ganhar espaço em campo, com e sem a bola.

Obviamente outros fatores pesam para um WR jogar bem ou mal uma temporada, como coaching staff (especialmente de ataque), QB titular etc. Mesmo assim, esses elementos externos ao jogador são difíceis de prever numa temporada e aparentam pesar mais negativamente que positivamente.

O talento define tanto quem devemos buscar primeiro como quem devemos evitar: se, por um lado, a posição de running back casa muito bem com o termo “next man up” (“o próximo”, em inglês), tendo em vista que o volume determina a produção dos backs, por outro, um wide receiver de elite não é facilmente substituível, portanto a profundidade do seu WR room é determinante para o seu sucesso numa temporada de fantasy.

(Em tempo: entenda-se profundidade aqui como um conjunto de WRs de porte e relevância, algo que se constrói em estratégias como a Zero RB, em que se tomam vários recebedores de alto nível nas primeiras rodadas).

Ex.: quando Cooper Kupp se machucou e perdeu o restante da temporada 2022, não só a produção geral do ataque aéreo dos Rams diminuiu como também nenhum dos remanescentes (Skowronek, Jefferson…) mostraram algo perto do nível de Kupp em fantasy.

Decepções: Andre Johnson (2015), DeAndre Hopkins (2016), Julio Jones (2017), Terry McLaurin (2021), Ja’Marr Chase (2023).

Surpresas: John Brown (2015), Stefon Diggs, Michael Thomas (2016), Cooper Kupp (2018), DK Metcalf (2019), Brandon Aiyuk (2019), Ja’Marr Chase (2021), DeVonta Smith, Chris Olave (2022), Zay Flowers, Adam Thielen (2023).

Grandes surpresas: Allen Robinson, Steve Smith, Doug Baldwin (2015), Julian Edelman, Tyler Lockett (2018), John Brown (2019), Stefon Diggs, Will Fuller, Justin Jefferson, Curtis Samuel (2020), Antonio Brown, Jaylen Waddle (2021), Michael Thomas (2022), Nico Collins (2023).

Quem procurar em 2024: poderia falar de vários recebedores nessa faixa do ADP (WR 20-30, especialmente se você monta seu WR room cedo), mas George Pickens, para um líder claro em alvos nos Steelers, está muito baixo no ADP para quem tem potencial de estar no top 10 da posição ao fim da temporada.

Tight Ends

Considerada por muitos a posição mais difícil de se acertar no fantasy, tight end é de fato um mistério ano a ano, assim como outras posições, no entanto ela soa até mais estável do que aparenta ser. Quando comparadas com a expectativa histórica do ADP, os jogadores têm entregue resultados satisfatórios.

Quando vemos situações inesperadamente positivas entre tight ends, isso é realmente imprevisível e fruto de mudanças nos times que elevam um jogador (importância num ataque, melhoria do poderio ofensivo etc.) ou o projetam ao estrelato desde cedo (calouros de capital de draft alto). Ainda assim, nada é tão certo quanto ver um tight end já ter produzido antes (touchdowns à parte, embora sempre bem-vindos), pois indica que o time já confia em suas habilidades atléticas.

Acesso a alvos — O caminho mais estável para o sucesso de um tight passa por ser um dos principais alvos da equipe, mais especificamente o primeiro ou segundo na ordem de seu respectivo ataque.

Experiência — Desde 2012, apenas quatro jogadores alcançaram 10 PPG enquanto calouros (Jordan Reed, Evan Engram, Kyle Pitts, Sam LaPorta). Paciência é importante na posição, especialmente para quem joga dynasty. A maioria dos nomes que fez 10+ pontos de média numa temporada variou entre o terceiro e o oitavo ano de carreira.

  • Este ano, Brock Bowers tem caminho para ser um alvo top 2 de sua equipe, mas o cenário em Vegas ainda é nebuloso para cravar (2025 deve ser o seu ano de breakout);
  • Ben Sinott tem capital de draft e um QB calouro que pode buscá-lo em situações óbvias de passe, porém Terry McLaurin e o experiente Zach Ertz podem impedir que Sinott possa fazer um breakout season como calouro;
  • Ja’Tavion Sanders é um tiro de longa distância que pode render com Bryce Young, mas seu nome deve estar mais presente na waiver wire que nos drafts.

Surpresas: Eifert (2015), Austin Hooper, Mark Andrews, Darren Waller (2019), Dallas Goedert (2020), Sam LaPorta (2023).

Grandes surpresas: Delanie Walker, Jordan Reed (2015), George Kittle (2018), Darren Waller (2020), Mark Andrews (2021).

Quem procurar em 2024: o top 5 do ADP (Kelce, LaPorta, Andrews, McBride, Kincaid) é composto por jogadores que serão claros top 2 em alvos nos seus respectivos times, aqui “não tem como errar”; depois deles, todos os nomes têm obstáculos na competição por alvos ou dependem de TDs, fazendo-os geralmente um investimento menos otimizado que buscar jogadores de outras posições. Se você perder a primeira run na posição, fazer stream (pegar um tight end livre conforme o confronto) pode render bons frutos assim que defesas fracas contra tight ends se revelarem.

Apêndice: Tabelas de Referência

As tabelas a seguir mostram o ADP médio de uma posição (ex.: QB1 = 21.82) e esperada produção PPR (ex.: QB1 = 20.51) entre os anos de 2015 e 2023. Foram considerados apenas ADPs médios até 180 (15 rodadas de draft).

* Jogador qualificado: jogador que alcançou alguma das seguintes marcas numa temporada:

  • 160+ passes tentados;
  • 140+ corridas;
  • 15+ alvos (running backs, tight ends);
  • 30+ alvos (wide receivers).