Adam Harstad é o analista de fantasy mais focado em “teoria de fantasy” que eu conheço. Ele pouco tenta adivinhar quem serão os próximos breakouts, sleepers e start/sit, por exemplo, mas está sempre escrevendo coisas como “o que procurar para identificar sleepers” e “como devemos raciocinar para tomar boas decisões de start/sit”.
Nesse ano, ele retweetou um estudo que fez há alguns anos que tentava descobrir qual era a semana da temporada em que os resultados do fantasy da temporada atual passavam a ser mais importantes que o ranking pré-draft para avaliar jogadores. Ou seja, a partir de qual semana do ano nós podemos esquecer o ranking pré-draft e focar apenas na produção do ano para avaliar jogadores?
A resposta é que é a semana 4. Após 4 jogos no ano, há maior correlação entre os líderes em pontos do fim do ano e os líderes da semana 4 do que entre os líderes do fim do ano e o ranking pré-draft.
Por isso, é a partir da semana 4 (e a cada semana que passa isso aumenta mais) que você deve se sentir confiante em dizer que o que aconteceu até agora na temporada deve se manter ao longo do ano. É claro que não é ciência exata e nem tudo vai se manter (alô Cordarrelle Patterson), mas você estará certo na maioria das vezes se confiar na manutenção dos padrões.
É aquilo que eu disse na semana 1: muitas pessoas têm medo de superestimar os acontecimentos do início da temporada, mas poucos têm medo de subestimar esses acontecimentos, o que é um erro tão grave quanto.
Logo, se DJ Moore, Deebo Samuel e Cooper Kupp estão com target share altíssima e pontuando muito ao término da semana 4, provavelmente continuarão sendo estrelas no fantasy (uns mais que outros, evidentemente). E se Allen Robinson e DeAndre Hopkins não estão tendo target share tão alta até agora, provavelmente não passarão a ter.
Novamente, a chave aqui é tentar buscar os padrões nos meios, não no fim. É sobre o que leva o jogador a produzir, não à produção em si, pois ela se corrigirá com o tempo. Por exemplo, Jonathan Taylor: ele tem apenas 1 touchdown em 4 jogos, mas lidera a liga em carregadas a menos de 5 jardas da linha de gol. Após 4 semanas, já podemos supor que o padrão irá se manter, mas esse padrão não é a sua média de 0.25 TD por jogo, mas o alto número de carregadas na linha de gol. E para WRs, o que se deve se manter são os targets, não necessariamente os pontos feitos.
JOGADORES PARA COMPRA
Compra da Semana – Diontae Johnson, WR
Existe uma estatística chamada Expected Fantasy Points, e ela mede quantos pontos era esperado que cada jogador tivesse baseado no seu volume. O ponto chave é que ela pontua diferente para cada tipo de oportunidade. Um target vale mais que uma carregada, uma carregada na redzone vale mais que uma carregada no meio do campo, um target de 40 jardas vale mais que um target na linha de scrimmage…
O que os caras fizeram foi calcular quantos pontos cada tipo de oportunidade vale, através de números de uma temporada. Por exemplo, vamos supor que em 2020 tivemos 100 carregadas na goal-line e nessas carregadas a soma de pontos foi 120. Ora, então podemos afirmar em média que uma carregada na goal line vale 1.2 pontos em Expected Fantasy Points. Se você está pensando que essa estatística é a melhor forma de medir volume que você já viu, você está absolutamente correto.
E é por isso que Diontae Johnson é o buy da semana!
Diontae Johnson é atualmente o WR1 nessa estatística. Não há nenhum WR na NFL com maior volume em Expected Fantasy Points Per Game do que ele, que tem 23. Outros WRs pontuaram mais porque foram mais eficientes com menos volume (por exemplo, ter 3 targets na endzone e conseguir 3 TDs nesses passes), mas nenhum teve mais volume. Inclusive, Jared Smola postou recentemente que nos 3 jogos que Diontae jogou ele foi o WR4, WR7 e WR4 em Expected Fantasy Points.
Por isso, esse é um caso em que você deve, sim, comprar na alta. Muito dificilmente alguém estará ranqueando Diontae como um WR top 12 no ano, então seu preço ainda está muito barato e certamente aumentará nas próximas semanas. Afinal, com um volume tão alto, é impossível não pontuar bem. Desde o início de 2020, Diontae jogou 15 jogos em que não saiu mais cedo do jogo por lesão, e, nesses jogos, teve 13 jogos com 10 targets ou mais. A soma de targets desses 15 jogos foi de 162, ou 10.8 por jogo. Para referência, em 2020, apenas 4 WRs conseguiram 10 targets por jogo ou mais, e o líder em targets por jogo foi Davante Adams com 10.6.
Calvin Ridley, WR
Ridley atualmente tem 10.2 targets por jogo (6° na NFL), 26.4% de target share (12° na NFL) e é o 6° na NFL em air yards. Esses números me dão confiança absoluta em dizer que ele termina o ano como WR top 10. Além disso, é o WR5 em Expected Fantasy Points. Sinceramente, o que falta pra ele pontuar bem é converter algumas bolas bolas longas e TDs que por pouco não aconteceram, mas ainda virão.
Por fim, podemos desconfiar de uma mudança no esquema dos Falcons: nas semanas 1 a 3, a média dos passes de Matt Ryan viajou 5.9 jardas aéreas, mas na semana 4 esse número foi de 12.1. O que é interessante é que o ataque de Arthur Smith em Tennessee se aproximava mais do segundo número. A ver se essa tendência se mantém, mas desconfio que sim. Até porque a narrativa de que Matt Ryan está jogando mal é um pouco exagerada: os Falcons tem média de 24 pontos por jogo nas últimas 3 semanas, e Ryan está avaliado pelo PFF com nota de 74, que é uma nota ligeiramente acima da média.
D’Andre Swift, RB
O jogo de Swift na semana 4 foi ideal para pessoas que gostam do jogador e querem adquirí-lo, porque ele pontuou mal (então as pessoas desvalorizaram-no), mas teve utilização muito boa. Até então, Swift estava jogando 59% dos snaps e correndo menos de 60% das rotas, mas na semana 4 jogou 73% dos snaps e correu 71% de rotas, ambos seus maiores números da temporada. Seus snaps não se converteram em volume (ele e Williams tiveram targets e carregadas semelhantes), mas o melhor preditor de volume futuro não é volume passado, mas sim os snaps. Ou seja, o volume segue os snaps, e isso que aconteceu na semana 4 é uma aleatoriedade que deve regredir à média. Enfim, o jeito certo de se ler a Semana 4 de Swift é passar a gostar mais dele do que se gostava na semana 3, mas o público em geral está gostando menos, pois ele pontuou mal. Compre na baixa.
Odell Beckham Jr., WR
Que início de temporada azarado de Odell Beckham Jr! No seu primeiro jogo, foi um dos líderes da semana em air yards (soma das distâncias de cada target), mas não conseguiu passar das 80 jardas. Na semana seguinte, novamente teve número excelente de air yards que não se converteram em recepções e ainda viu Baker Mayfield (um QB reconhecido pela precisão nos passes) errar dois passes que seriam touchdowns para OBJ, um deles um TD de 50 jardas. Triste para quem tem Odell várias ligas, como eu, mas uma ótima oportunidade para comprar na baixa. Odell está jogando bem, se desmarcando com facilidade e recebendo muita atenção de Baker. Talento e volume se encontraram. Só não começou a pontuar bem por acaso.
Damien Harris, RB
Quem me acompanha aqui semanalmente sabe que eu admito meus erros rapidamente. Após 2 jogos eu já estava colocando Jonnu Smith, grande aposta minha na pré-temporada, como um jogador para se vender com urgência. E agora admito que errei com Damien Harris. Baseando-me no jogo em que James White se lesionou, eu concluí que o papel de Harris não mudaria tanto, pois não mudou naquele jogo… e, bom, errei. Seus snaps aumentaram de 45% para 60% e ele teve o maior número de rotas corridas da sua carreira (isso num jogo contra a forte run-defense de Tampa, matchup péssimo para ele). No entanto, ele é um incrível buy-low porque tem pontuado muito mal nos últimos jogos. Essa janela se fechará em breve, pois dois dos seus próximos 3 jogos são contra Texans e Jets, jogos em que ele pode ultrapassar os 20 pontos.
Keenan Allen, WR
Allen é o que eu chamo de Diontae Johnson 2.0. Desde que Justin Herbert assumiu a titularidade, ele tem tido número altíssimo de targets, de pontos e de consistência. Nos 15 jogos de Herbert em que Allen não saiu lesionado, ele ultrapassou os 10 targets em 13 jogos, teve média de 18.8 pontos por jogo e pontuou menos de 10 pontos em apenas uma semana (na qual pontuou 9.8). Para referência, apenas 3 WRs superaram os 19 pontos por jogo em 2020. Enfim, Keenan é ultra-seguro e é o WR1 claro dos Chargers, muito a frente de Mike Williams. Nos ajuda que os Chargers de Brandon Staley jogam num ritmo acelerado (jogam muitos snaps por jogo) e são um dos 5 times mais pass-heavy da NFL. Keenan é meu WR4 para o resto da temporada.
Outros jogadores para compra:
Russell Wilson (ótimo ataque que marcará muitos TDs e defesa ruim que lhe obriga a passar muito); Lamar Jackson (está em ritmo para mais de 1000 jardas corridas e passando mais a bola que o normal, os TDs ainda virão); Kyle Pitts (porcentagem de rotas, targets, snaps e Expected Fantasy Points apontam para melhora); Chase Edmonds (RB12 PPR sem marcar nenhum TD no ano, joga num ataque top 3, Conner é injury-prone); Josh Jacobs (no seu primeiro jogo de volta de lesão, e num game-script ruim, jogou 67% dos snaps); Marvin Jones (a lesão de Chark deixa muitos targets vagos para Jones); Michael Pittman (32 targets nos últimos 3 jogos, mesmo tendo enfrentado Xavien Howard e Jalen Ramsey em 2 deles); Darrell Henderson (leia o que eu escrevi na semana 3 quando ele foi a compra da semana, e saiba que ele jogou 90% dos snaps na semana 5… mas a divisão de trabalho estava 65-35 até um fumble de Michel que lhe colocou no banco até o fim do jogo. No próximo jogo, veremos como será a divisão de trabalho).
JOGADORES PARA VENDA
Venda da Semana – Cordarrelle Patterson, RB
Os jogadores mais eficientes do fantasy geralmente são, sim, os melhores da vida real. Não é por acaso que Tyreek Hill e Alvin Kamara foram o WR e RB mais eficientes do fantasy em 2 dos últimos 3 anos. Enfim, nesse ano, o jogador mais eficiente está sendo o journeyman Cordarrelle Patterson, e é por isso que ele está pontuando bem. Na verdade, o seu número de eficiência de 1.8 pontos por toque é um número que não foi atingido por nenhum RB nos últimos 20 anos. E é infinitamente maior que o 1.38 de Alvin Kamara de 2020, que é o maior dos últimos 5 anos. Você acha que há alguma chance, qualquer chance, de isso se manter?
Pense bem: Patterson, um RB journeyman de 30 anos, está tendo 130% da maior eficiência dos últimos 5 anos. É como se Andy Dalton, um QB journeyman de 33 anos, de repente estivesse tendo 11.2 jardas por tentativa, 30% a mais que o melhor número da carreira de Patrick Mahomes.
O número de Patterson vai cair, e vai cair drasticamente. Sério, eu me surpreenderia se esse número fosse mais metade do que vem sendo até o resto do ano. E como seu volume é baixíssimo (35% dos snaps), é impossível que ele mantenha esse ritmo. E não me venha argumentar que os Falcons irão aumentar seus snaps, pois ele está jogando bem. Afinal, Patterson já foi muito melhor que Mike Davis nas semanas 2 e 3, mas os Falcons lhe colocaram para jogar o seu menor número de snaps do ano na semana 4. É simplesmente que Cordarrelle não é um RB de muitos toques.
Myles Gaskin, RB
A narrativa importante da semana 4 que passou mais despercebida foi, sem dúvidas, a situação do backfield dos Dolphins. O que aconteceu foi que Myles Gaskin viu seus snaps, que eram em torno de 60%, caírem para menos de 40%, e o motivo não foi lesão ou nada parecido. Os Dolphins simplesmente acharam que Malcolm Brown era o melhor RB do time naquele momento e lhe deram 67% dos snaps. Ainda não sabemos se o RB1 do time daqui para frente será Malcolm Brown ou Myles Gaskin, mas eu estou preocupadíssimo com Gaskin, pois sabemos que, no mínimo, seu posto de RB1 do time só está vivo por um fio. Aliás, vale a pena adicionar Malcolm Brown em todas as ligas, pois há uma chance real de ele virar o RB1 dos Dolphins e um RB top 25 no ano.
Chris Carson, RB
Eu draftei Chris Carson em duas ligas nesse ano, e já o vendi nas duas. O motivo principal nem é a sua lesão do pescoço, mas o baixo número de targets que ele vem tendo. O esquema de Shane Waldron, ex-Rams, é parecido com o de Sean McVay no sentido de que não usa muitos passes para RBs. Carson teve 6 targets em 4 jogos, o que é um número absolutamente terrível para um RB draftado tão alto quanto ele. Sem targets, ele teria que correr muito com a bola, o que não está acontecendo, visto que só teve mais de 14 corridas em 1 jogo do ano. Enfim, ele só está pontuando razoavelmente devido aos TDs. Por fim, agora ele está com esta lesão no pescoço que, segundo Pete Carroll, “é algo crônico que às vezes aparece e às vezes não”. Essa lesão deve lhe deixar de fora do jogo de quinta.
Corey Davis, WR
Não deixe o jogo razoável contra a fraca defesa dos Titans lhe enganar: o ataque dos Jets é um dos 3 piores da NFL. Esse é um ataque que tem muita dificuldade em avançar o campo, que é mais run-heavy que pass-heavy e que marcará poucos TDs no ano. Tudo isso atrapalha Corey Davis, especialmente se considerarmos que a competição por targets nao é tão pequena assim. Afinal, Zach Wilson passa muito para o slot receiver – a posição de slot receiver nos Jets tem 7 targets por jogo, isso com Braxton Berrios tendo sido o cara do slot em 3 deles – e Elijah Moore teve 18 targets em 2 jogos e meio.
Corey ainda não jogou nenhum jogo em que ambos Elijah Moore e Jamison Crowder jogaram e, quando isso acontecer, seus targets não serão tão altos. Por enquanto ele está pontuando bem, pois tem 3 TDs no ano (Zach Wilson passou para apenas 4 TDs, Corey tem 3), mas isso é insustentável. Por fim, a tabela é um pesadelo após esse jogo contra Atlanta na semana 5: BYE, NE, CIN, IND, BUF, MIA, HOU, PHI, NO, MIA. Ou seja, da semana 6 até a semana 15, eu só gosto dos confrontos contra Indianapolis e Houston.
Outros jogadores para venda:
Sam Darnold (está com 5 TDs no ano, mas na realidade é pouco mais que um pocket passer puro); Aaron Rodgers (Green Bay joga num ritmo muito lento com poucas jogadas por jogo; prefiro Hurts, Brady, Stafford, Herbert); Mike Gesicki (ataque com pouco volume, Gesicki é a terceira ou quarta opção); Dawson Knox (seu número de TDs é insustentável, e ele só produz por TDs); Dalvin Cook (é injury-prone, essa lesão não vai embora rápido; Cook é meu RB6 para o resto do ano); Clyde Edwards-Helaire (Mahomes não faz checkdowns e os Chiefs não anotam muitos TDs corridos); Terry McLaurin (não confio em Taylor Heinicke, competição por targets em Washington não é baixa); Deebo Samuel (ele está muito em alta, não manterá o ritmo).
RANKING PARA O RESTO DA TEMPORADA
Abaixo segue o Ranking para o Resto da Temporada, dividido em prateleiras (tiers)!