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All-in ou fold: em quem colocar suas fichas na temporada 2023 do fantasy football

Richard Seymour, ex-defensive end pro bowler de Patriots e Raiders que se tornou lucrativo jogador de poker após a aposentadoria, inclusive com premiações no evento principal da série mundial

Chegando ao final de julho, época de training camps, em que os motores rumo ao início da NFL começam a esquentar de vez, resolvi aproveitar o quão quente é essa época do ano também em relação a outra das minhas grandes paixões para juntar fantasy e poker num único texto.

Na esteira de uma histórica World Series of Poker recém-finalizada, em meio à edição Winter Millions da Brazilian Series of Poker que acontece em São Paulo e com este que vos escreve tendo cravado um torneio no tradicional H2 Club na última segunda-feira, utilizarei termos específicos desse esporte da mente para avaliar jogadores, situações e tendências do fantasy football para este ano de 2023.

Mas como faremos isso? Explico a seguir, tanto para quem já conhece o poker, quanto para quem não está familiarizado com os seguintes termos:

♠️ All-in 🤑: Quando se está disposto a colocar todas as fichas no pano. Embora possa ser usada como blefe ou “resteal”, é uma jogada em que, na grande maioria das vezes, estamos muito convictos de que temos a melhor mão (exemplo: 9♣️9♥️ no bordo A♣️9♠️5♦️3♦️Q♠️ como raise frente a uma aposta que faz o pote ficar maior do que o seu stack no river).

♥️ Insta call 👍: Quando temos uma mão que, se não a melhor possível (nuts) ou extremamente forte, é boa o suficiente para pagar a aposta adversária sem pensar duas vezes, ainda que esta seja alta (exemplo: K♣️Q♦️ no bordo K♦️8♥️2♠️J♠️9♣️).

♣️ Check behind 🤨: Situação em que optamos pelo check (ou “mesa”) e não estamos dispostos a investir muitas fichas, quando temos uma mão decente, não muito forte, mas suficientemente apta a ser revelada, com o chamado valor de “showdown” logo após um check do(s) adversário(s) (exemplo: 7♦️7♣️ no bordo Q♣️6♥️5♥️9♦️3♠️).

♦️ Insta fold ⛔️: Quando desistimos imediatamente após uma aposta adversária, pois não temos a força necessária para continuar na mão ou perspectiva de melhora nas streets futuras (exemplo: 9♠️8♠️ no flop A♦️K♦️2♣️).

Explicações feitas, podemos perceber a diferença de nível de confiança extraído de cada um dos termos listados. Assim sendo, sempre com ligas PPR 1 QB como padrão, bora aplicá-los ao fantasy football em 2023!


♦️ Insta fold na supervalorização de situação sobre talento ⛔️

Algo que os últimos anos me ensinaram definitivamente, com ênfase a 2022, é que todo o cuidado é pouco ao descartar as chances de um jogador comprovadamente acima da média continuar produzindo em situação diferente da que ele tinha na(s) temporada(s) anterior(es). Casos mais emblemáticos são os de Tyreek Hill e Davante Adams, representantes da posição menos dependente dos arredores para que produza estatísticas relevantes.

Não se engane: volume segue sendo rei para o fantasy, mas, para que este se mantenha de forma consistente, é preciso um mínimo de capacidade técnica, que faça o jogador fazer por merecer o tal volume. Por isso que, dentre outros, tenho pelo menos um pé e meio atrás em relação a Rachaad White – jogador que, segundo conversa sobre fantasy que tive recentemente, terá “todo o volume do mundo” em 2023 – como protagonista do backfield dos Buccaneers ao longo de 17 jogos.

♥️ Insta call na preponderância dos WRs no primeiro round 👍

Consequência natural de como a própria NFL vem se tornando cada vez mais aérea e, portanto, valorizando até de forma exagerada os salários dos recebedores, enquanto faz o caminho inverso em relação aos running backs, o fantasy football parece finalmente ter acompanhado a tendência e abraçado de vez a estratégia “zero RB” para 2023.

Ainda que, particularmente, este redator tenha como plano ideal o “hero RB”, saindo com ao menos um corredor dos dois primeiros rounds de um draft de liga tradicional (1 QB), difícil refutar o fato de que, se sua escolha não for Austin Ekeler, Christian McCaffrey, Travis Kelce ou Bijan Robinson, no que se refere especificamente à primeira rodada, o valor está nos wide receivers.

Isso porque nomes como Justin Jefferson, Ja’Marr Chase, Cooper Kupp, Tyreek Hill, Stefon Diggs, Davante Adams, Amon-Ra St. Brown, Garrett Wilson e CeeDee Lamb oferecem menos pontos de interrogação do que os RBs dessa mesma faixa de ADP, não só sob o ponto de vista de disponibilidade física, mas também contratual, com todas as dúvidas decorrentes do possível holdout que Saquon Barkley e Josh Jacobs podem exercer.

♣️ Check behind na implementação do late-round QB 🤨

Como o próprio idealizador da estratégia (JJ Zachariason, sempre uma das melhores opções para se ler e ouvir quando se trata de fantasy football) prega há pelo menos dois anos, o “mercado” se adequou ao valor dos signal callers no fantasy e vem melhorando nisso ano após ano, especificamente no que concerne à diferença que os quarterbacks móveis oferecem por meio da produção de jardas e touchdowns terrestres, especialmente nas ligas de pontuação mais tradicional, que ainda tem como padrão os 4 pontos por passe para TD.

Por isso é que, ainda mais quando se vem de uma temporada na qual o top 4 produziu muito acima do restante em termos de pontos de fantasy totais e por jogo, mirar um QB nos cinco primeiros rounds não só é uma boa pedida, mas uma estratégia recomendada. Porém, cuidado: seguir o atual ADP de Patrick Mahomes, Josh Allen ou Jalen Hurts entre a metade do round 2 e a metade do round 3 ainda se mostra um preço muito caro a pagar. Recomenda-se, em contraponto, buscar Lamar Jackson, Justin Fields, Joe Burrow, Justin Herbert ou Trevor Lawrence entre o final da rodada 4 e o round 6.

Mas não se desespere caso opte por passar um deles em favor de um ou mais ótimos valores que apareçam no referido range em outras posições: ainda é possível parear o upside do calouro Anthony Richardson no round 7, 8 ou 9 com o piso de um veterano como Geno Smith, Jared Goff ou Aaron Rodgers em rodadas mais tardias.

♦️ Insta fold nos middle round TEs ⛔️

A não ser que sua liga seja TE Premium, algo me parece muito claro para ligas padrão em 2023: ou se sai do draft com um tight end escolhido cedo – especificamente Travis Kelce no round 1, Mark Andrews no round 3 ou TJ Hockenson no round 4 – ou se mira um jovem promissor a partir do round 9, dentre nomes como Greg Dulcich, Dalton Kincaid e Sam LaPorta, consequência da esperada evolução de segundanistas que surpreenderam em sua temporada de calouro e da chegada à liga de uma talentosa classe de rookies draftada no último mês de abril e que muito provavelmente iniciará como titular sua trajetória profissional, algo raro para jogadores da posição.

Isso porque, além de este que vos escreve esperar um gap significativo não só entre Kelce e o restante da posição – como já foi o caso ano passado –, mas também entre o top 3 e os demais TEs, as opções entre WRs, QBs e até mesmo RBs que costumam estar à disposição ao redor do ADP de nomes como Darren Waller, Dallas Goedert, George Kittle e Kyle Pitts tendem a ser muito mais atraentes.

♠️ All-in em Austin Ekeler como RB1 🤑

Exceção contra a imensa maioria que coloca Christian McCaffrey à frente do camisa 30 dos Chargers, alguns fatores me fazem apostar em Ekeler repetindo a liderança entre corredores para o fantasy em 2023: além de sua mais do que provada capacidade como recebedor – tão valiosa no nosso jogo dentro do jogo – possui eficiência acima da média em converter oportunidades na red zone em touchdowns.

Além disso, o fato de estar à procura do maior contrato da carreira até o momento, ainda mais para um jogador que não foi draftado – e apesar da já delineada situação dos RBs como um todo –, me faz acreditar que fará de tudo para melhorar a eficácia também entre as trincheiras, o que foi seu ponto fraco em 2022.

Mas o principal fator de desempate entre os jogadores que ocupam a prateleira principal entre RBs nos rankings deste que vos escreve é a concorrência (ou falta dela) encontrada nos respectivos elencos: enquanto Ekeler segue muitíssimo pouco “ameaçado” por Joshua Kelley ou Isiah Spiller, McCaffrey tem a companhia de Elijah Mitchell, que é muito bem quisto por Kyle Shanahan e “roubou” quantidade relevante de snaps nas (poucas) oportunidades em que atuou junto com CMC na última temporada, inclusive em partidas importantes de playoffs.

Portanto, mesmo achando completamente compreensível colocar CMC na liderança apesar dos fatores listados, considero que apenas uma nova lesão de Mitchell ofereceria a segurança necessária para que pudesse cravar o camisa 23 como RB1 nos rankings pre-draft.

♠️ All-in em Garrett Wilson como WR top 10, com upside de top 5 🤑

Tendo sido capaz de produzir uma temporada de calouro ofensivo do ano recebendo passes de Mike White e do fantasma de Joe Flacco – imunidade à incapacidade de Zach Wilson infelizmente se mostrou impossível para qualquer ser vivo –, o camisa 17 mostrou, em seu primeiro ano como profissional, um raríssimo conjunto de habilidades completo, tanto como corredor de rotas, quanto como ganhador de jardas após a recepção.

Agora, ele se prepara para ter um dos mais precisos quarterbacks de todos os tempos lhe passando a bola, o qual conta com um histórico único em gerar wide receivers muitíssimo proeminentes em termos estatísticos, ainda mais quando são a evidente opção principal do jogo aéreo do ataque que integra.

Junte isso ao fato de que, nos últimos tempos, recebedores de primeira linha vêm antecipando em uma temporada o que se convencionava chamar de salto ao estrelato no terceiro ano da carreira e temos o mais evidente candidato a breakout de 2023 e uma das melhores escolhas possíveis no segundo round do seu draft.

♥️ Insta call na possibilidade de DeVonta Smith terminar o ano à frente de AJ Brown 👍

Uma das principais duplas de recebedores de toda a NFL, AJ Brown e DeVonta Smith fazem por merecer a alcunha. Afinal, são dois excelentes jogadores que atuam por um dos mais explosivos e produtivos ataques da liga. Acontece que este redator não consegue entender a razão pela qual estão tão distantes em ADP (Average Draft Position) e ECR (Expert Consensus Rankings), com o primeiro figurando entre WR5 e 8 e o segundo entre WR12 e 15.

Isso porque, tomando por base a reta final de 2022, incluindo playoffs, a carga de alvos, recepções e jardas de ambos foi muitíssimo similar, inclusive com leve vantagem para o camisa 6, que, mais jovem do que o companheiro, possui, em tese, tendência maior de crescimento em comparação com aquele que já conhecemos e que teve ainda mais de seu imenso potencial destravado ao sair de Tennessee rumo à Philadelphia.

Por essa razão que coloco ambos na mesma prateleira do meu ranqueamento pré-draft, fechando os chamados WR1 do top 12 da posição, e acabo visando muito mais o terceiranista, que é uma excelente pedida no round 3 do seu draft.

♦️ Insta fold no hate quase consensual da indústria em relação a Derrick Henry ⛔️

Usualmente sendo draftado no final do segundo round e ranqueado, pelo consenso dos especialistas (ECR), atrás de nomes como Jonathan Taylor, Tony Pollard e Rhamondre Stevenson, “King Henry” mais uma vez enfrenta a descrença da indústria do fantasy, que parece ter certeza de que, nesta temporada, o declínio finalmente virá para quem, apesar dos quase 30 anos de idade, segue sendo um dos maiores concentradores de toques na bola de toda a liga e terminou a última temporada novamente no top 5 entre running backs.

Ainda mais quando o valor do jogador nunca esteve tão baixo – e atrativo –, este que vos escreve se recusa a comprar a narrativa enquanto um corredor de atributos físicos tão únicos – para não dizer alienígenas – não mostrar evidências minimamente mais claras de decadência.

Somando tudo isso ao fato de que o calendário é acessibilíssimo, com direito a dois jogos contra Houston nos playoffs do fantasy (semanas 15 e 17), e que os Titans demonstraram que pretendem seguir competindo pelo título da AFC Sul após a contratação de DeAndre Hopkins, temos uma excelente oportunidade de draftar um legue winner por um preço inédito – por mais que eu sinta que tende a subir daqui até setembro.

♥️ Insta call no atual valor de Breece Hall 👍

Voltando de uma lesão ligamentar de joelho, o camisa 20 dos Jets teria todas as possibilidades de desbancar o companheiro de equipe Garrett Wilson como calouro ofensivo do ano passado caso não tivesse se machucado. Dono de uma rara combinação de explosividade pelo chão e capacidade de agarrar passes saindo do backfield, Hall provavelmente seria uma escolha de primeiro round se tivesse se mantido saudável.

Acontece que, diferentemente do parecer oferecido para Javonte Williams, outro jovem RB que rompeu ligamentos do joelho em 2022, as opiniões de renomados analistas médicos de NFL e fantasy tendem a respaldar as afirmações do próprio segundanista no sentido de que estará pronto para a semana 1 da temporada que se aproxima.

Por isso é que, ressalvada a possibilidade da chegada de um veterano como Dalvin Cook – que, infelizmente, é real neste momento – o atual ADP de terceira rodada oferece um desconto monumental, mesmo se Breece seguir a tendência de jogadores que demoram duas ou três semanas para voltar a ter uma carga de trabalho completa e retomar o auge técnico após uma séria contusão.

De qualquer forma, aconselha-se muita atenção às notícias envolvendo o jogador, desde o training camp até o início da temporada, pois, mesmo se você não conseguir draftá-lo, mirá-lo em trocas durante as primeiras semanas do ano pode ser um movimento capaz de lhe trazer o título da sua liga.

♣️ Check behind na desvalorização de Kenneth Walker após a chegada de Zach Charbonnet 🤨

A vontade era de colocar “insta fold” de uma vez, mas permitirei o benefício da dúvida aos “CharboThuthers” que fizeram o ranqueamento do segundanista de Seattle despencar após a franquia draftar o produto de UCLA na segunda rodada do último NFL Draft.

Da mesma forma com que Aaron Jones fez o talento preponderar e não permitiu com que AJ Dillon diminuísse consideravelmente seu volume ou protagonismo no backfield dos Packers após o companheiro ter sido selecionado alto no respectivo recrutamento, não acredito que um “home run hitter” como Walker deixará um corredor burocrático como Charbonnet roubar parte significativa de seu brilho ou oportunidades de tocar na bola.

Ainda que se admita o elemento “boom ou bust” no jogo do camisa 9 como calouro, com dificuldades em conquistar jardas entrincheiradas de forma consistente, ou seja, raramente produzia ganhos de 3 a 5 jardas, mas, ao contrário, ou tinha corridas negativas ou gerava uma “big play”, certo é que a leitura de gaps é algo plenamente corrigível com o passar dos anos como profissional, principalmente para alguém tão jovem como Walker.

Além disso, é raríssimo o histórico de Pete Carroll em utilizar comitês de running backs e não me parece que alguém que competiu até o fim pelo prêmio de calouro ofensivo do ano na temporada passada deixe de abrir o calendário como RB1 dos Seahawks para 2023, cargo este sempre muito produtivo para o fantasy e que me faz colocar Walker cinco posições acima do consenso, como RB11 nos rankings pré-draft.

♦️ Insta fold na crença de que Deshaun Watson voltará a ser um QB top 10 em 2023 ⛔️

Atual QB9 de acordo com o consenso, Watson conta com um forte respaldo de que voltará a apresentar algo parecido com o desempenho anterior a seu afastamento dos campos, lá no longínquo ano de 2019. Este que vos escreve, por sua vez, não consegue acompanhar a tendência.

Além de, em sua temporada final nos Texans, já ter apresentado uma queda significativa de desempenho, seu último ano como titular – o primeiro pelos Browns – foi bastante desanimador, com a falta de ritmo de jogo decorrente da ausência em partidas e treinamentos profissionais com companheiros por mais de dois anos tendo se revelado evidente. Os motivos pelos quais esteve afastado dos gramados, direta ou indiretamente, também possuem peso nessa percepção, ao menos para este redator – podendo você, caro leitor, chamar de carma se quiser.

Com isso, enquanto o camisa 4 não mostrar mínimos sinais de retomada do desempenho técnico que – frise-se – há MUITO tempo o colocou entre os principais jogadores de sua posição, não comprarei a narrativa de que, logo depois de sua primeira pré-temporada completa junto do novo time, retomará status similar ao que um dia já teve.