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Análise

Valor de troca e Ranking para o resto da temporada – Semana 3

Fala, leitor! Se essa é a sua primeira vez lendo a nossa coluna semanal sobre valor de troca, sugiro que leia, antes disso aqui, o texto da semana passada. Nele, há uma introdução que eu considero importantíssima que fala sobre a janela de oportunidade das primeiras semanas da temporada e dos benefícios de ser um jogador agressivo no fantasy. É depois de ter lido aquela introdução que você fará o máximo proveito desse texto de hoje. Então bora lá!

Devido ao que eu considero um ultra-conservadorismo, a maioria dos jogadores de fantasy evita fazer trades nas primeiras semanas do ano. Na semana 1, jamais, e na semana 2, dificilmente. Um amigo (que gosta de trades) que adotava essa postura já me justificou que preferia esperar até a semana 3 acabar, pois era nesse ponto da temporada que conseguia traçar conclusões mais certeiras a respeito dos jogadores. 

O que eu lhe aconselhei é que adiantasse seu relógio de trades em uma semana, já começasse a tentar tirar suas conclusões após a semana 2 e já propusesse algumas trades. O motivo é até simples: o bom jogador de fantasy já identifica os padrões e tendências após a semana 2 e já ajusta seus rankings, enquanto a maioria dos seus adversários, conservadores, demora uma semana a mais para isso. 

Se algo de importante aconteceu na semana 1, você passa a ter uma forte suspeita de um padrão. Se isso se repete na semana 2, você já deve concluir que há uma tendência que irá ser mantida, assim estará certo na grande maioria das vezes. A semana 3 viria apenas como confirmação, ratificando uma conclusão que já existia há 7 dias.

No entanto, é importantíssimo destacar que quando falamos de identificar os padrões, não estamos falando da pontuação total do jogador em cada semana, mas do modo como ele produziu. Você deve analisar os meios, não o fim. É analisar snaps, targets, target share… e não apenas duas pontuações altas que vieram por touchdowns longos em duas semanas consecutivas. 

Se Mike Williams – que ao longo da carreira era usado em profundidade e tinha a média de seus targets sendo de 15.5 jardas – teve 12 targets na semana 1 e esses targets, em média, eram de 10.1 jardas, você suspeita que houve uma mudança importante para o fantasy. Mas até ali você só tinha 1 jogo para analisar, poderia ser apenas acaso, casuística, e não uma novo tendência. 

Eis que, na semana 2, Mike Williams tem 10 targets e eles tinham média de 9.6 jardas. Agora você já tem um padrão. Deve concluir que Mike já é, e continuará sendo, um jogador de muitos targets e que seus targets são, e continuarão sendo, tão curtos quanto o de Keenan Allen. 

Mas a grande maioria dos adversários é conservadora ao ajustar os rankings, e tem medo de valorizar Williams, que era draftado por volta do WR45, como WR25 já na segunda semana. Preferem esperar a terceira semana – que irá, sim, confirmar o padrão já visto nas duas primeiras semanas – para isso. E é aí que entra a sua janela de oportunidade da semana 2!

Ou seja, você já tem informação suficiente para tirar conclusões que estarão, na grande maioria das vezes, corretas. Mas a comunidade do fantasy demora um tempinho a mais para reagir corretamente às surpresas das semanas 1 e 2. É o que eu disse no texto da semana passada: todos estão super preocupados em não superestimar os acontecimentos do início do ano, e poucos se preocupam em não subestimá-los demais.

E é por isso que o momento após a semana 2 é o meu favorito do ano para trades. Nesse ponto, eu já me sinto bem confiante nas conclusões (o que acontecia num grau muito menor há 7 dias) e ainda existe uma boa janela de oportunidade (que some após a semana 3).

Então vamos lá!

JOGADORES PARA COMPRA

Compra da Semana – Darrell Henderson, RB

Darrell Henderson é um potencial league-winner.

O que é isso? É aquele jogador que está precificado conforme a sua produção mais provável, mas que possui um potencial extremamente alto que não está refletido no seu preço. Antonio Gibson no pré-draft é um bom exemplo. O cenário mais provável para ele era o que estamos vendo nesse início de temporada, ou seja, ser um bom RB que joga 65% dos snaps mas vê McKissic roubando muitos targets. Esse papel de Gibson o coloca hoje como RB12-14 para o resto do ano, e era exatamente o preço que ele custava no pré-draft. No entanto, havia alguma chance de ele usurpar McKissic no jogo de passe e ser um RB de 80% dos snaps. Nesse caso, ele seria um RB top 5 no ano, um cara que te ganharia a liga. Um league-winner.

Você pode até pensar que todos jogadores tem, cada um, seu próprio potencial alto, mas isso não é bem verdade. Josh Jacobs e Myles Gaskin, por exemplo: os dois custavam o mesmo preço e provavelmente produziriam parecido, mas o “super-teto” do Jacobs era bem baixo, enquanto Gaskin tinha, sim, potencial de league-winner caso tudo desse certo pra ele. E é isso que você deve pensar, em quão grande seria a produção do jogador caso tudo desse certo para ele. Uns têm mais do que outros.

E é por isso que Henderson é o buy da semana!

Darrell Henderson jogou 94% dos snaps na semana 1 e estava tendo utilização parecida na semana 2 antes de se lesionar e sair do jogo. O cenário mais provável daqui para a frente é que ele passe a dividir mais trabalho com Sony Michel conforme este aprender o playbook, e que esse backfield se torne uma divisão em torno de 65% e 35% para os dois. E o preço de Henderson, RB 18-20, reflete isso. O preço de um RB com essa divisão de trabalho num bom ataque é este.

Mas e se a divisão de trabalho não mudar? Então Henderson seria um RB bell-cow num ataque top 3 da liga, jogando num time que gosta de correr com a bola perto da endzone. Nesse caso, Henderson é um RB top 8, no mínimo, um jogador top 12 no ranking geral. Esse é o cenário que os mais apaixonados por Akers esperavam quando o draftavam no top 10 de RBs antes da sua lesão. E quanto provável é esse cenário? Eu colocaria em uns 25% ou mais, afinal, se Sony Michel chegou nos Rams dia 25 de agosto e no jogo do dia 19 de setembro não jogou mais de 10% dos snaps… não sei se seus snaps aumentarão tanto assim algum dia.

Mike Davis, RB

Leu a introdução e lembra do que eu falei sobre procurar os padrões nos meios, e não no fim? Pois é. Davis tem média de 70% dos snaps nessas duas semanas e nesse período teve 13 targets! A pontuação não foi boa, mas é difícil para um RB pontuar bem contra Buccaneers e Eagles, dois times fortíssimos contra a corrida devido a linhas defensivas fortes. A maré tende a virar, e eu confio em Arthur Smith. Por fim, Cordarrelle Patterson não me assusta muito, pois não acredito que algum técnico na NFL queira lhe dar mais de 10 toques na bola por jogo, ele não é esse jogador.

James Robinson, RB

O ódio contra James Robinson saiu do controle! Na semana 1, James teve boa utilização, jogando 64% dos snaps e tendo 6 targets. Na semana 2, teve 3 targets (número ok) mas seus snaps aumentaram para 73%, número top 12 na liga. O volume está aí, e a eficiência no jogo corrido não é ruim (4.5 jardas por carregadas), devido à OL subestimada do time. Só esse volume já lhe coloca na faixa de RB22-25, e seu preço parece estar mais baixo que isso devido à desconfiança com Urban Meyer, que atualmente lidera o pior ataque da liga. E se é que você me permite confessar, eu confio em alguma melhora para esse ataque, pois, no papel, é um ataque top 20 na liga.

Elijah Mitchell, RB

Finalmente os jogadores de fantasy parecem ter aprendido que Kyle Shanahan é imprevisível. Mas acredito que agora estão desconfiando até demais. A principal competição de Mitchell para as próximas semanas serão RBs fracos que estavam sendo rejeitados por toda a NFL e que ainda não sabem o playbook. Sabemos que Shanahan gosta de Mitchell (ele era o RB2 no depth chart da semana 1), que o ataque corrido dos 49ers é dos mais produtivos da NFL, que a competição para Elijah é ridícula. Então por que ele tem preço de RB30? Nesse momento, não há dúvida alguma sobre quem será o RB1 dos Niners. O piso de Mitchell no curto prazo é de RB2 baixo.

Brandin Cooks, WR

Brandin Cooks é cotadíssimo para liderar a NFL em target share. Até agora, ele tem 21 targets e o Texans tentou 62 passes, o que lhe dá um target share de 33% (para referência, os líderes ao fim do ano costumam ter 29%). Não serão targets de qualidade, mas serão muitos. E como o Texans deve estar sempre atrás no placar, o time deve passar a bola mais do que gostaria. Além disso, o ataque se mostrou mais funcional do que esperávamos, tendo média de 29 pontos por jogo até agora. Com Davis Mills, o ataque cairá, com certeza, mas Brandin continuará recebendo muitos targets – dos 18 passes que Mills tentou, 9 foram para Brandin. Cooks tem 41 pontos em 2 jogos, mas alguns GMs querem vendê-lo após a lesão de Tyrod (que não deve ficar nem 5 semanas fora). Aproveite e adquira essa produção segura.

Amari Cooper, WR

Assim como Henderson, Amari Cooper pode ser um league-winner. O cenário mais provável para ele é terminar entre o WR10 e WR15 no ano, mas se tudo der certo para ele, o potencial é sensacional. Eu acredito que Amari seja o WR1 do Cowboys (joga mais snaps, tem mais anos de liga e muito mais química com Dak do que CeeDee Lamb), e se eu estiver correto, Amari deve terminar o ano no top 8 de WRs. Não consigo dar certeza, pode ser que Lamb seja o alfa, ou, no cenário mais provável de todos, que os dois sejam igualmente produtivos. Mas mesmo nesses cenários pessimistas, Amari ainda entra no meu ranking top 12 para o ano, porque o Cowboys vai passar muito a bola e joga num pace muito rápido, tendo muitos snaps por jogo. Por fim, vai que Gallup não volta bem da lesão e não puxa tanta produção assim…

Outros jogadores para compra:

Josh Allen (mesmíssima situação de 2020, compra na baixa, enfrentou boas defesas), Russell Wilson (pode ser MVP, deve ser top 3 na liga em TDs), Alvin Kamara (20 carregadas na semana 1, teve isso uma outra vez na carreira, Payton está lhe poupando menos), Joe Mixon (bell-cow, 80% dos snaps num bom ataque), D’Andre Swift (é o Ekeler mais barato), James White (50% dos snaps num jogo em que o Patriots atropelou, 13 targets no ano), AJ Brown (é alfa, a produção virá), Robert Woods (ataque ultra-produtivo, há targets suficientes para 2 WRs), Kenny Golladay (talentoso, nunca precisou de muitos targets para produzir), DJ Chark (a defesa ruim dos Jaguars obrigará o ataque a passar demais, concentrando nos WRs), Darren Waller (mais próximo do Kelce do que do Kittle), Kyle Pitts (calouros só vão evoluindo ao longo do ano), Tyler Higbee (snaps e rotas continuam excelentes, ver texto da semana passada), Mike Williams (mesmos motivos da semana passada), DeVonta Smith (era buy na semana 1 e teve muitos targets e air yards na semana 2).

JOGADORES PARA VENDA

Venda da Semana – Antonio Brown, WR

Já ouviu falar do Efeito Âncora? É um viés cognitivo que o ser humano apresenta que lhe faz atribuir um peso maior à primeira informação que lhe foi apresentada do que às outras. “A primeira impressão é a que fica”. E apesar de Antonio Brown não ter ido nada bem na semana 2, ele detonou na semana 1. Talvez seja por isso que ele anda tão bem cotado em rankings que eu vejo por aí, geralmente figurando entre o WR27 e WR30. Bom, Antonio Brown é meu WR38.

Uma análise mais aprofundada nos revela que Brown tem médias de 6 targets e 13.2 pontos por semana, números apenas razoáveis. E ele atingiu esses números em jogos em que o ataque de passe de Tampa Bay foi esplêndido, algo impossível de se manter no ano inteiro. Ora, os adversários foram Atlanta e Dallas, talvez as duas piores defesas contra o passe entre os 32 times. A target share de AB foi de 13,9%, péssimo número. Infelizmente, a ascensão de Gronk acaba prejudicando Brown, pois ele é mais uma estrela para dividir os targets finitos deste ataque. E os próximos jogos de Tampa? LAR, NE, MIA, PHI, CHI, NO, BYE, WAS… defesas bem mais difíceis que Atlanta e Dallas, não é?

Damien Harris, RB

Tudo o que você precisa saber é que num jogo com game-script perfeito para ele, em que os Patriots atropelaram os Jets, Damien teve apenas 43% dos snaps e correu 16 vezes com a bola, pontuando 13.4. E o Patriots não irá atropelar todos seus adversários assim. Ao contrário, me parece ser um time de campanha 9-8. Se James White jogou mais snaps que Harris nesse jogo em que o Patriots venceu, o que esperar do confronto contra o Buccaneers, na semana 4? Além disso, Rhamondre Stevenson pode crescer durante o ano e roubar um pouco dessa produção corrida de Damien, que não oferece quase nada no jogo de passe. Próximos jogos são contra as ótimas defesas de New Orleans e Tampa.

Jonnu Smith, TE

É, amigos, eu estava errado. Quem me acompanhava antes do draft sabe que Jonnu era o meu principal sleeper para tight ends, e agora ele não está nem no meu top 12 da posição. Acontece que Jonnu está bloqueando mais do que eu previ, e, consequentemente, correndo menos rotas que o necessário para fantasy. Idealmente, você quer que seu tight end corra rotas em 75% dos passes que seu time tentar. E, bom, Jonnu correu 60% na semana 1 e 40% na semana 2. Na semana 2, ele só correu rotas em 12 snaps! No entanto, ele teve 5 targets entre essas 12 rotas, o que nos mostra que o Patriots está esquematizando jogadas para colocar a bola nas suas mãos, o que seria muito positivo… se ele também conseguisse mais targets de outras formas.

Enfim, Jonnu se encaixa naquele grupo de tight ends que eu odeio: produção de TE10-15, com potencial baixo. Não gosto, pois essa produção é fácilmente igualada por Streaming de TEs e porque a diferença entre o TE12 e o TE18 é sempre irrisória. Não vale muito a pena gastar vaga de roster num TE assim. Por isso, eu recomendo vendê-lo. Quem sabe você consegue um WR do meu top 50 ou o Tyler Higbee por ele? Já vendi Jonnu em duas ligas redraft que jogo esse ano (Jonnu + M.Sanders por Higbee + M. Davis) (Jonnu + Boyd + T. Patrick por Fant + Shepard + Singletary).

Deebo Samuel, WR

Tudo nesse início de Deebo Samuel é impossível de se manter: número de jardas, número de targets, target share, eficiência. Ora, ele só está conseguindo esses números porque Aiyuk não está jogando e porque George Kittle está tendo target share de 16%. E não precisa nem ser torcedor dos 49ers, como eu sou, para poder afirmar que Aiyuk voltará a ser titular (não necessariamente como WR1 do time, mas alguma produção sim) e que Kittle terá target share acima de 20%. Some o fato dos 49ers não serem um time que gosta de passar a bola e que Deebo se lesiona com frequência e Deebo vira uma venda óbvia. No entanto, alguns vão pensar que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e que se ele produziu bem em duas semanas seguidas, isso é uma tendência. Não se engane! 

Outros jogadores para venda:

Tom Brady (só fez o que fez porque enfrentou Dallas e Atlanta), Ezekiel Elliott (risco extremo, fuja se possível), Ty’Son Williams (comitê de 3 RBs num time em que RBs recebem poucos passes), Melvin Gordon (seu papel só cairá ao longo do ano), Terry McLaurin (Heinicke é inimigo do passe preciso, QB fraco, não se engane com o hype), Tyler Boyd (o Bengals está passando a bola muito, mas muito menos vezes que o esperado), Brandon Aiyuk (56% dos snaps na semana 1 e 59% na semana 2), Robert Tonyan (se encontra na faixa de produção de Jonnu Smith e enfrenta muita competição por targets).

RANKING PARA O RESTO DA TEMPORADA

Abaixo segue o link para o Ranking do Resto da Temporada, dividido em prateleiras (tiers)!

https://docs.google.com/spreadsheets/d/13f2HXzXVqgOh6CQmT5tEBWfcDOI8doOOGE_q1u7FaDc/edit?usp=sharing

Por Caio Brettas

Brettas é um amante de fantasy obcecado por trades. Se especializa em estratégia de draft e projeções. Torcedor do 49ers, nomeia todos seus times “CaioShanahan” e também mexe com apostas esportivas.

Uma resposta em “Valor de troca e Ranking para o resto da temporada – Semana 3”