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Análise

Valor de troca e Ranking para o Resto da Temporada – Semana 4

Vou contar pra vocês uma situação real, de uma liga importante para mim.

Um amigo meu, bom jogador de fantasy, se viu num draft (de 12 pessoas, que escala 2 WR e 1 Flex) em que bons valores de WR foram caindo para ele, rodada após rodada. Ao fim do draft ele tinha selecionado CeeDee Lamb no início do 4° round; Tee Higgins no fim do 5°; Jerry Jeudy no início do 6°; Brandin Cooks no fim do 7°; Corey Davis no início do 8°; Will Fuller no fim do 9°; Jakobi Meyers no fim do 10°. Caso você não lembre bem dos ADPs desse ano, eu posso te contar que todas pareceram boas escolhas.

Ele terminou com 7 WRs e foi selecionar seu primeiro QB no round 12. Até aí, nada contra. A estratégia de Late-Round-QB é muito válida, e acumular jogadores de skill-positions no draft não é má ideia. 

O problema começa durante a temporada. Infelizmente, seu QB do round 12 era Trevor Lawrence, que já deixou bem claro que não renderá o esperado por nós. E as opções de stream não são tão atraentes assim, já que 19 QBs estão nesse momento em algum dos 12 times da liga.

Enfim, esse manager agora tem Sam Darnold como quarterback e 7 WRs relevantes numa liga em que escalamos no máximo 3 a cada semana.

E agora?

O erro, meus amigos, é que ele não está buscando trades para melhorar seu QB. Mais que isso, eu soube que ele recusou propostas equilibradas que lhe dariam um QB top 10 sob a justificativa de que estava “perdendo valor”.

Eu acho importante contar essa história porque essa postura é bastante comum. E não faz sentido algum, pois, como eu sempre digo, jogador que fica no banco não pontua para o seu time. Não vale nada ter Jakobi Meyers pontuando bem no banco se ele é o WR6 do time e nunca vai entrar no time titular. Will Fuller e Jakobi Meyers provavelmente jogarão zero jogos como titular no time dessa história, então porque o preciosismo em mantê-los no time?

Ponha valor pra jogar e não pra encher banco

Se esse meu amigo fizesse uma troca de Will Fuller e Jakobi Meyers por Jalen Hurts, ele estaria cedendo mais valor do que recebendo… Mas seu time pontuaria mais na temporada. E não é esse o objetivo do fantasy? Só pontua quem joga no time titular, e embora seu banco fosse piorar, o time titular (que é o que conta) estaria melhor.

Uma dica que eu dou quando for trocar jogadores do seu banco é se perguntar quantos jogos esse jogador deverá jogar como titular no seu time. Porque é isso o que importa. A contribuição de cada jogador para seu time está diretamente relacionada a quantos jogos ele vai fazer de titular. Por isso, na grande maioria das vezes, mais vale ter um handcuff como Sony Michel ou Damien Williams do que um WR como Mecole Hardman ou Christian Kirk.

Só pontua quem joga no time titular, e embora seu banco fosse piorar, o time titular (que é o que conta) estaria melhor.

Os handcuffs devem ser titulares (leia-se, ser úteis) alguns jogos na temporada quando os titulares machucarem, enquanto esses WRs nunca serão escalados no seu time titular. Se o jogador não tem perspectiva de ser escalado no time titular, ele é dropável (ou imediatamente trocável, caso tenha algum valor de troca).

Enfim, a moral da história é: não deixe de melhorar seu time por estar dando mais valor numa trade do que recebendo. Se seu time vai pontuar mais, vale a pena. Inúmeras vezes eu me vi em situação assim, na qual eu “perdia a troca”, mas melhorava meu time. E puxei o gatilho em todas as vezes, ora. O que importa é o time titular. O banco só é útil na medida em que fornece jogadores para o time titular

Agora, vamos aos nome da semana!

JOGADORES PARA COMPRA

Compra da Semana – Derrick Henry, RB

Uma vez ouvi um podcast com o Scott Barrett, do Fantasy Points, em que ele ilustrava a importância dos jogadores league-winners. A lição era que não ganha a liga quem tem maior número de JOGADORES BONS no time, mas sim quem tem maior número de JOGADORES FORA DE SÉRIE no time. Ou seja, em 2020 por exemplo, mais valia você ter Kamara, Diggs, Waller e um bando de jogadores ruins do que ter um time composto exclusivamente por bons jogadores, mas nenhum fora de série. 

Um exemplo que ele usou foi o ano de 2019, em que Lamar Jackson e CMC foram os nomes da temporada. Nesse ano, 41% dos times que tinham Lamar chegaram à final da sua liga, e 48% dos que tinham CMC chegaram à final.

Ele também contou que em cada um dos últimos 6 anos, a soma dos pontos do RB1 e RB24 foi maior que a soma do RB6 e RB7. Novamente ilustrando a importância de se ter league-winners ao invés de vários jogadores que são apenas bons.

E é por isso que Derrick Henry é o buy da semana!

Henry é um verdadeiro league-winner, e é meu jogador 2 overall, atrás apenas de Christian McCaffrey. 

Além dos números fantásticos que ele tem correndo com a bola (1540 jardas e 16 TDs em 2019; 2027 jardas e 17 TDs em 2020), Henry agora recebe alguns passes. Se em 2019 ele teve 18 recepções no ano e em 2020 teve 19, nesse ano ele já completa 12 recepções em apenas 3 jogos. Esses pontos através das recepções elevam Henry a outro nível, deixando para trás os RBs excelentes no fantasy e se juntando a Christian McCaffrey na prateleira dos deuses do fantasy.

Se Henry tiver a sua produção corrida de 2020 e mantiver o seu ritmo de recepções desse ano, ele terminará o ano com 421 pontos. Para referência, apenas 1 RB nos últimos 5 anos fez 400 pontos num ano. Alvin Kamara foi o RB1 de 2020 com 376 pontos, 45 a menos que essa projeção de Henry. Enfim, ainda que o ritmo de recepções de Henry caia (e eu duvido muito que volte a ser o desastre que foi nos últimos anos), ele estará em excelente posição para terminar como o melhor RB de 2021. 

Stefon Diggs, WR

O Buffalo Bills é o segundo time mais pass-heavy da liga e joga no pace mais rápido da liga. Isso significa que o time joga muitos snaps por jogo, e que muitos desses são passes. Num time que tenta tantos passes, é claro que o WR1 incontestável tem muito valor. Diggs lidera a liga em air yards e é um dos 5 jogadores desse ano com média de mais de 10 targets por jogo, mas ainda não pontuou muito bem, pois os passes longos de Josh Allen não se tornaram recepções. Mas eles vão começar a ser completados, a química entre Diggs e Allen é incontestável. Diggs liderou a NFL em jardas recebidas em 2020 e foi o WR3 em PPR, e eu creio que ele tem tudo para repetir esses números.

Darren Waller, TE

Apenas um jogador na liga tem mais targets que Waller: Davante Adams, que tem um a mais. Ou seja, nenhum outro WR da liga tem mais targets que Waller, que é um tight end. Ter um jogador que pontua como WR top 10 e escalá-lo na posição de TE é uma vantagem incrível no fantasy, e vale a pena pagar caro para conseguí-la. Aproveite-se da baixa de Waller após dois jogos com 7 targets (até o seu piso é alto) e compre-o. Os Raiders são um dos 5 times mais pass-heavy da liga e Carr está jogando seu melhor football da carreira. Não se assuste com a emergência de Ruggs e Edwards, pois o aumento no número de passes tentados pelo time compensa isso.

Darrell Henderson, RB

Darrell Henderson jogou 94% dos snaps na semana 1 e estava tendo utilização parecida na semana 2 antes de se lesionar e sair do jogo. O cenário mais plausível daqui para a frente é que ele passe a dividir mais trabalho com Sony Michel conforme este for aprendendo o playbook, e que esse backfield se torne uma divisão em torno de 65% e 35% para os dois. E o preço de Henderson, de RB18-20, reflete isso. O preço de um RB com essa divisão de trabalho num bom ataque é este. 

Mas se a divisão de trabalho não mudar, Henderson será um RB bell-cow num ataque top 3 da liga, jogando num time que gosta de correr com a bola perto da endzone. Nesse caso, Henderson seria um RB top 8, um jogador top 12 no ranking geral. E eu acho bem possível que a divisão de trabalho não mude, afinal, Sony Michel chegou nos Rams dia 25 de agosto e não jogou mais de 10% dos snaps no jogo do dia 19 de setembro enquanto Henderson estava saudável. Ele jogou 75% dos snaps na semana 3, perdendo grandes 25% para o questionável Jake Funk.

Chase Edmonds, RB

Edmonds mostrou consistência espetacular nos 3 primeiros jogos da temporada, com 14, 12 e 14 pontos. É uma pontuação até razoável, especialmente se considerarmos que ele não marcou nenhum TD no período. Mais ainda se pensarmos que o Cardinals ganhou os 3 jogos, e esse game-script de vitórias faz com que o time queira usar mais James Conner do que Edmonds, que é mais usado para receber passes.

Bom, o Cardinals não vai ganhar sempre, e haverão jogos em que o script favorecerá muito Edmonds. A sorte com TDs eventualmente virá. E há chance considerável de que o injury-prone James Conner perca jogos em 2021, o que faria Edmonds se tornar um D’Andre Swift enquanto Conner estivesse fora. Edmonds teve 17 targets nos primeiros 3 jogos, mesmo com os Cards vencendo.

Outros jogadores para compra:

Russell Wilson (vai marcar muitos TDs e corre com a bola num ataque que passa muito); Aaron Jones (aumentou os snaps em 10% com relação a 2020 e 2019, é league-winner); Joe Mixon (continua sendo bell-cow, enfrenta JAX e DET nas semanas 4 e 6); Tyreek Hill (continua sendo o mesmo jogador que draftamos no top 8, na mesma situação); Diontae Johnson (teve 10 targets ou mais em 12 dos últimos 14 jogos em que esteve saudável); Odell Beckham (muitos targets e air yards no seu primeiro jogo de volta, mesmo com Browns vencendo por muito); Michael Pittman (24 targets nos últimos 2 jogos, 120 jardas contra a secundária dos Rams); Jerry Jeudy (volta na semana 5 ou 6, deve continuar seu breakout); Kyle Pitts (tudo aponta para melhora na produção, tudo mesmo).

JOGADORES PARA VENDA

Venda da Semana – Antonio Gibson, RB

Esqueçam as expectativas para Gibson no início da temporada, elas não vão se concretizar. A realidade é que Gibson é um RB que está jogando 60% dos snaps, dividindo trabalho com JD McKissic. E nós sabemos que, para um RB de 60% dos snaps pontuar bem, precisa de uma das duas coisas: ou marca número alto de TDs como Nick Chubb, ou tem alto número de recepções, como Swift.

Gibson não tem nenhum dos dois. O ataque liderado por Heinicke é ruim e não marca muitos TDs, e o RB recebedor do time é McKissic. O pior de tudo é que McKissic está jogando muito bem, então seus snaps não devem ser reduzidos tão cedo. Na verdade, seus snaps só aumentaram a cada semana, enquanto os de Gibson diminuíram a cada jogo, chegando a apenas 57% na semana 3. Sua média de snaps no ano, de 61%, é apenas a 22° maior marca da liga, péssimo número.

Ezekiel Elliott, RB

Existe uma máxima no fantasy que diz: “você não consegue ganhar a sua liga apenas com uma boa escolha na primeira rodada, mas pode perdê-la apenas com uma má escolha na primeira rodada”. Ou seja, você deve evitar risco no início do draft. O draft passou, mas a máxima se mantém, especialmente no caso de Elliott. Ele é, sem sombra de dúvidas, o jogador com mais risco dentre o top 20 no ranking geral para 2021. Afinal, quem é capaz de garantir que a divisão de trabalho entre Zeke e Pollard continuará sendo 70% e 30% até o final da temporada? Há uma chance muito real de Pollard continuar jogando bem e tornar essa divisão 60-40 ou até 55-45. Nesse caso, você perderia sua liga apenas por ter Zeke, que se tornaria bust, no seu time. 

Elliott está em alta após dois jogos em que pontuou bem, dois jogos em que o Cowboys usou os RBs muito mais do que usa normalmente. Quando a utilização dos RBs voltar ao normal, o valor de Zeke também cairá. Aproveite a alta e troque-o por um jogador mais seguro.

Cooper Kupp, WR

A maioria dos analistas já ranqueia Kupp como um WR top 10 para o resto da temporada, inclusive eu. Mas, assim como Ezekiel Elliott, Kupp vem com mais risco que os outros jogadores na sua faixa. Se por um lado eu consigo ter convicção que Metcalf, Keenan, Ridley e Jefferson irão ter produção top 10 no ano (até porque eles já provaram que conseguem em 2020), não consigo ter a mesma convicção para Kupp. Há uma chance razoável de Woods crescer e ser junto com Kupp o WR 1A e 1B do time. E considerando que foi exatamente isso o que aconteceu nos últimos 3 anos, é algo muito possível.

Pode ser que Kupp tenha tido apenas uma sequência espetacular, que não seja algo que vá se manter no ano todo. Sequências assim acontecem ao acaso. Já aconteceu com Kupp, em 2019, entre as semanas 3 e 5. Nesse período, ele marcou 33, 26 e 26 pontos PPR. Mas não foi o WR1 do time do ano inteiro. No resto do ano (semanas 1 a 2 e 6 a 17), Kupp fez 182 pontos ao todo, enquanto Woods fez 184 no mesmo período. Eu não acho que isso vá acontecer de novo nesse ano, mas há de se considerar a possibilidade. Por isso, eu trocaria Kupp por outro WR top 10, mais seguro, se eu conseguisse.

Ja’Marr Chase, WR

Esperava-se que os Bengals fossem ser um dos times mais pass-heavy na NFL, assim como foram em 2020. É por isso que os 3 WRs do time estavam sendo draftados tão alto. Mas após 3 semanas já podemos dizer que os Bengals é um dos times mais run-heavy da liga (no momento, ajustado para game-script, é o top 1 run-heavy). Por isso, Burrow não conseguirá sustentar 3 WRs produtivos, e eu acredito que todos 3 irão decepcionar com relação ao ADP. Ja’Marr Chase é a venda mais óbvia entre os 3, pois é o terceiro em targets por jogo, com a média pífia de 5 por jogo. No entanto, está em alta, pois é um rookie cheio de hype e marcou 4 TDs no ano, ritmo que é insustentável. Aproveite a alta e venda.

Antonio Brown, WR

Antonio Brown jogou apenas os dois primeiros jogos da temporada, que foram contra Atlanta e Dallas, talvez as duas piores defesas contra o passe da NFL. Nesses jogos, o ataque de Tampa foi esplêndido, atingindo números que são até insustentáveis durante um ano inteiro. No entanto, Brown não foi espetacular. Jogou bem na semana 1 e foi mal na semana 2, totalizando médias decepcionantes.

Sua média é de 6 targets, 13.2 pontos e target share de 13,2%. O target share, especialmente, é terrível. O que acontece é que a ascensão de Gronk prejudica AB, pois significa mais competição por targets. Se Brown teve números apenas ok contra Atlanta e Dallas, o que esperar das próximas semanas, quando Tampa enfrenta NE, MIA, PHI, CHI, NO, BYE, WAS?

Outros jogadores para venda:

Dak Prescott (a defesa dos Cowboys não é tão ruim, Dak não precisará passar tanto); Dalvin Cook (nada contra Cook, mas eu acho que você consegue Henry, Kamara ou Jones por ele, eu acharia ótimo); Chris Carson (o novo esquema do Seahawks quase não usa passes para RBs); Damien Harris (suas oportunidades não aumentarão com a lesão de White, mas muitos esperam que sim, aproveite a alta); Melvin Gordon (Javonte não demora a ganhar o backfield); DJ Moore (Robby e Terrace vão puxar mais targets do que vem puxando); Julio Jones (Tennessee continua tão run-heavy quanto ano passado, aproveite a alta com a lesão de AJ Brown); George Kittle (excesso de competição por targets nos 49ers).

RANKING PARA O RESTO DA TEMPORADA

Abaixo segue o link para o Ranking para o Resto da Temporada, dividido em prateleiras (tiers):

https://docs.google.com/spreadsheets/d/13f2HXzXVqgOh6CQmT5tEBWfcDOI8doOOGE_q1u7FaDc/edit?usp=sharing

Por Caio Brettas

Brettas é um amante de fantasy obcecado por trades. Se especializa em estratégia de draft e projeções. Torcedor do 49ers, nomeia todos seus times “CaioShanahan” e também mexe com apostas esportivas.