Embora sem um prospecto capaz de sequer ser cogitado como uma das dez primeiras escolhas, o que não foi tão raro assim em anos recentes, a classe de 2021 oferece alguns nomes com potencial de se tornarem estrelas do fantasy football.
A menos de duas semanas do draft, esquenta a expectativa dos torcedores para o momento capaz de definir os rumos de diversas franquias da liga profissional. Geralmente, tais rumos estão atrelados às posições consideradas mais “nobres”, como QB, OT, DE, CB e WR. Porém, se principalmente na NFL atual, que tanto valoriza o passe, RBs vêm se tornando cada vez mais desvalorizados (para não dizer descartáveis) aos olhos dos general managers, para nós, GMs virtuais, eles sempre ocuparão um lugar de destaque, até porque, seu natural tempo médio de carreira, mais curto em comparação com as demais posições, faz com que tenham a maior capacidade de impacto imediato no fantasy, tendo o menor gap de valor e importância entre ligas dynasty e redraft.
Em outras palavras, é notável a maior escassez dos tão valiosos workhorses ou bell cow backs. Por isso, o draft da NFL sempre representa aquela fagulha de esperança de que surjam novos “Dalvin Cooks” e “Christian McCaffreys” para incorporarmos aos nossos elencos.
Contudo, diante dessa tendência de cada vez mais equipes adotarem um comitê de jogadores na posição, o mais importante é sabermos identificar aqueles que, mesmo nessa nova realidade, terão o potencial de despontar como relevantes pontuadores no game, circunstância que será muito afetada pelos destinos (ou landing spots) de cada um deles.
Por essa razão, ao ranqueá-los, fiz questão de mencionar um time por calouro como “destino ideal para o fantasy”, mas já fica aqui registrado que, a princípio, Atlanta Falcons, Pittsburgh Steelers, Miami Dolphins, New York Jets e Buffalo Bills pintam como as franquias com maior oportunidade para que um novo titular se estabeleça e, consequentemente, tenha mais toques na bola por jogo em 2021.
Estamos diante de uma classe com menos opções, aparentes,de corredores com potencial de relevância do que tivemos em 2020, ano em que ainda que com apenas um jogador da posição draftado no primeiro round – na escolha 32, inclusive (Clyde Edwards-Helaire) –, tivemos uma “RB run” no início da segunda rodada, que nos proporcionou nomes importantes para o fantasy, como Jonathan Taylor, Cam Akers, D’Andre Swift e J.K. Dobbins.
Por outro lado, ainda que aos olhos da significativa maioria dos especialistas, tenhamos, este ano, apenas dois jogadores com potencial de figurarem no primeiro round do NFL Draft e assumirem alguma espécie de estrelato, além de um terceiro prospecto bastante intrigante, algo tem sempre que ser lembrado: RB é uma das mais imprevisíveis posições do futebol americano. Para cada LaDainian Tomlinson draftado na quinta escolha geral, existe um Trent Richardson escolhido entre os três primeiros jogadores e para cada Royce Freeman ou Samaje Perine draftado no terceiro ou quarto round, podem surgir “Alvin Kamaras”, “David Johnsons”, “Austin Ekelers” e “James Robinsons” de onde menos se espera, os dois últimos tendo entrado na liga como undrafted free agents, inclusive.
Muito que bom. Mas chega de ladainha e bora para os rankings!
TIER 1: Os astros em potencial
1) Najee Harris (Alabama) – 23 anos / 1,88 m / 104 kg
Tendo conquistado a liderança por um fio em comparação ao “medalhista de prata” Travis Etienne, Najee Harris aqui está pois seu estilo de jogo e tipo físico representam, ao menos em regra, um risco menor de lesões ou mesmo de se tornar jogador rotacional de comitê.
Possuindo altura e peso excelentes, o atual campeão da NCAA tem como principais virtudes a capacidade de esquiva e a agilidade lateral que, aliadas a uma inteligência e paciência acima da média para encontrar os espaços (ou buracos) entre os tackles, conferem-lhe ampla possibilidade de atuar em qualquer situação de jogo, ou seja, tanto nos early downs, quanto em jogadas de terceira ou quarta descida, até porque, ao longo de seus anos no College, desenvolveu de forma gradativa sua capacidade de receber passes, demonstrando fluidez e consistência no jogo aéreo.
Mas se engana quem pensa que a visão de jogo que possui o faria fugir do contato. Diferentemente da crítica que muitas vezes é feita em relação àquele com quem é mais comparado, ou seja, Le’Veon Bell, jogador que notadamente busca os flancos para tentar achar vias de corrida, Harris não tem qualquer receio da trombada e não hesita em colocar seu espesso corpo à disposição dos defensores, constantemente conseguindo arrastá-los na busca pelas jardinhas extras.
As maiores preocupações em relação ao jogo do ex-camisa 22 do Crimson Tide ficam por conta das ausências de velocidade acima da média e facilidade em mudar de direção durante a corrida, naturais, porém, quando se trata de um bruiser que alia força, técnica e alto QI de futebol americano.
Comparação NFL: Kareem Hunt com teto de uma mistura entre Le’Veon Bell e Ezekiel Elliott
Destino ideal para o fantasy: Pittsburgh Steelers
2) Travis Etienne (Clemson) – 22 anos / 1,78 m / 98 kg
Representante do estilo de RB preferido deste que vos escreve, o velocista proveniente de Clemson é uma verdadeira máquina de highligts de YouTube.
Dono de uma aceleração explosiva, Etienne torna praticamente impossível para qualquer defensor alcançá-lo a partir do momento em que encontra o espaço após as trincheiras, fazendo com que se torne uma verdadeira arma nuclear no campo aberto, tendo a chamada spread offense como seu habitat natural.
Em razão desse estilo de jogo, tem predileção por buscar as extremidades do campo para realizar as corridas, principalmente quando se vê obrigado a improvisar. Contudo, ainda que passe longe de ser sua especialidade, é plenamente capaz de correr pelo meio, já que possui equilíbrio acima da média, sendo capaz de quebrar tackles com facilidade pouco vista para jogadores com peso e biotipo semelhantes. Neste ponto, importante ressaltar que, entre a última medição registrada ao longo de seu ano como universitário senior até a que realizou em seu pro day, Travis ganhou cerca de 8 kg e, ainda assim, registrou a marca de 4.40 segundos no 40 yard dash.
Ao ter optado por permanecer no esporte universitário para seu quarto e último ano de faculdade, o ex-camisa 9 dos Tigers utilizou esse tempo a mais para enfatizar sua habilidade no jogo aéreo, atributo no qual, apesar de não ter a mesma naturalidade vista nos movimentos de Najee Harris, apresentou notável progresso. Aliado este à sua envergadura destacada, o prospecto foi definitivamente alçado à condição de possível every down back e agregou às suas perspectivas o potencial de atuar como third down back, ao menos em seu início de carreira profissional, dependendo do time que o draftar.
Como pontos que precisam ser melhorados no conjunto de predicados de Etienne podem ser mencionados a agilidade lateral, já que suas próprias características o tornam um corredor bastante vertical, além de sua aparente pouca paciência em deixar sua linha ofensiva abrir espaços, o que também é consequência de seu estilo de jogo.
Comparação NFL: Raheem Mostert com teto de uma mistura entre Alvin Kamara e Chris Johnson
Destino ideal para o fantasy: Miami Dolphins
TIER 2: O provável titular confiável
3) Javonte Williams (North Carolina) – 20 anos / 1,78 m / 100 kg
Se não possui um fundamento em que se destaque enormemente, talvez seja o mais equilibrado entre os prospectos de 2021, demonstrando qualidades boas ou ótimas, mas não excelentes, em praticamente todos os atributos exigidos de um RB.
Sendo o mais jovem da lista e, portanto, aquele que, pelo menos na teoria, tem mais possibilidades de se desenvolver no nível profissional, o ex-camisa 25 de UNC não apresenta uma velocidade descomunal, mas seu biotipo compacto, inteligência para encontrar os espaços e capacidade de correr com a mesma dinâmica, tanto por dentro, quanto por fora de sua linha ofensiva, o tornam um instigante prospecto, capaz de assumir o papel de bell cow, com o adendo de que também consegue receber passes com boa desenvoltura.
Williams tem como principais características o equilíbrio e a capacidade de quebrar tackles, sendo dono de pernas fortíssimas e consequente preferência por esquemas que favoreçam a abertura de gaps pelo meio do campo.
Javonte pode se beneficiar, ainda, do fato de que chega à NFL com as chamadas fresh legs, já que, durante seus dois anos de proeminência em North Carolina, dividiu o backfield com Michael Carter (que será abordado logo mais), tendo em sua bagagem apenas 366 corridas, contra 638 de Najee Harris e 686 de Travis Etienne, por exemplo.
Comparação NFL: David Montgomery, passando por Josh Jacobs, com teto de Nick Chubb
Destino ideal para o fantasy: New York Jets
TIER 3: Os wildcards
4) Kenneth Gainwell (Memphis) – 22 anos / 1,80 m / 83 kg
Ao contrário do que aconteceu na tier 1, desta vez dei a vantagem ao jogador mais explosivo e capaz de gerar as big plays tão queridas pelos praticantes de fantasy.
Instintos que lhe conferem visão de jogo singular para improvisar e encontrar espaços mesmo que sua linha ofensiva não os gere são o principal diferencial deste híbrido de RB e WR, detentor de velocidade acima da média e, principalmente, agilidade que pula da tela no momento em que assistimos a seus vídeos.
Tais características, aliadas a mãos firmes e facilidade para correr rotas, o tornam um ótimo recebedor, que, inclusive, alinhava várias vezes no slot em diferentes formações ofensivas. Consequentemente, Gainwell surge como alvo preferencial em ligas PPR, vislumbrando a possibilidade de obter uma média acima de 40 recepções por temporada.
Por outro lado, sua altura e peso geram preocupação a respeito de sua durabilidade e consequente aptidão para se tornar um workhorse, podendo figurar, entretanto, como o chamado 1A ou 1B de um comitê com divisão mais igualitária de toques. Nesta mesma linha, vislumbra-se que teria de trabalhar em seu bloqueio para o passe, circunstância que, embora possa tranquilamente ser aprimorada ao longo de sua trajetória na NFL, sempre acaba custando preciosos touches para o fantasy, principalmente no ano de calouro.
Importante mencionar, ainda, que o ex-camisa 19 de Memphis optou por não jogar a última temporada universitária em razão da pandemia, fato que pode pesar contra seu valor percebido aos olhos dos scouts da NFL, mas, em contrapartida, pode significar mais gasolina no tanque quando estrear no nível profissional.
Comparação NFL: Tony Pollard com pitadas de Curtis Samuel e teto de Austin Ekeler se conseguir ganhar bastante massa muscular
Destino ideal para o fantasy: Cincinnati Bengals
5) Trey Sermon (Ohio State) – 22 anos / 1,91 m / 98 kg
Quase o extremo oposto de Gainwell, Sermon conta com sua fisicalidade como principal atributo, sendo o típico RB de força e pouca intimidade com recepções de passe.
Ainda que não conte com uma velocidade ou aceleração estonteantes, o ex-camisa 8 dos Buckeyes procura compensá-las com sua robustez e boa visão de jogo para identificar os gaps. Para além disso, porém, o principal fator que pode pesar contra Trey é a inconsistência que apresentou ao longo de sua trajetória no College, com os otimistas argumentando que, neste cenário, sua reta final talvez tenha sido seu melhor momento.
Tendo se transferido, em 2020, de Oklahoma para Ohio State após um ano de 2019 que desapontou muito em comparação com seus dois primeiros anos nos Sooners, Sermon chegou aos Buckeyes com desempenho ainda abaixo do esperado, até que, no jogo do título da Conferência Big Ten, quebrou o recorde histórico de sua nova universidade, ao obter 331 jardas corridas na vitória contra Northwestern. Depois disso, permaneceu consistente na semifinal dos playoffs nacionais contra Clemson, com 193 jardas e um touchodwn terrestre, até que, na final contra Alabama, sofreu uma lesão na clavícula logo no primeiro drive, a qual o tirou de praticamente todo o jogo, mas, felizmente, não o impediu de participar do pro day e não deve influenciar muito sua cotação no draft.
Surgindo, portanto, como um prospecto de típica preferência pelos early downs, seu valor tende a ser maior nas cada vez menos comuns ligas non-PPR, mas, nas mãos certas, como, por exemplo, as de Arthur Smith, novo treinador do Atlanta Falcons e antigo coordenador ofensivo do Tennessee Titans, onde potencializou o desempenho de Derrick Henry, Sermon pode vir a se tornar relevante para o fantasy, a despeito de seu aparente zero envolvimento no jogo aéreo.
Comparação NFL: Latavius Murray com teto de Derrick Henry se conseguir ganhar bastante massa muscular
Destino ideal para o fantasy: Atlanta Falcons
TIER 4: A serem lapidados
6) Kylin Hill (Mississippi State) – 22 anos / 1,80 m / 98 kg
Abrindo a metade final da nossa lista, a prioridade vai para o chamado upside.
Se Kylin Hill gera apreensão pelo fato de que, em 2020, exerceu um opt out tardio, ou seja, decidiu não mais jogar depois de apenas três partidas, ao longo das quais performou abaixo do esperado, com apenas 58 jardas terrestres em 15 carregadas, apesar de suas 23 recepções para 237 jardas aéreas, suas características, dentre as quais se destacam a aceleração e o equilíbrio, indicam um potencial que, se explorado da melhor forma, pode fazê-lo alcançar um altíssimo desempenho entre os profissionais.
Utilizado com mais foco no jogo aéreo em seu último ano de College, o ex-camisa 8 dos Bulldogs, detentor de um atleticismo acima da média, teve números expressivos pelo chão em 2019, com 1350 jardas e 10 TDs terrestres, o que indica que pode ser mais que apenas um passing downs back.
Comparação NFL: Jamaal Williams com teto de uma mistura entre Cam Akers e D’Andre Swift
Destino ideal para o fantasy: Arizona Cardinals
7) Michael Carter (North Carolina) – 21 anos / 1,75 m / 91 kg
Dono de estatísticas melhores em comparação direta com Javonte Williams, seu até então companheiro de backfield, Michael Carter tem na sua altura e peso as principais circunstâncias que causam receio em relação a seu desempenho entre os profissionais.
Muito ágil e elusivo, encontra facilidade em se deslocar lateralmente, sendo praticamente o protótipo da maioria dos third down backs que encontramos na NFL.
Entretanto, se conseguir fazer com que sua ótima visão de jogo compense seu biotipo menos propenso a aguentar pancadas no nível de elite do esporte, pode vir a se tornar mais do que apenas parte de um comitê.
Comparação NFL: Devin Singletary, passando por Gio Bernard, com teto de Ray Rice
Destino ideal para o fantasy: Denver Broncos
8) Rhamondre Stevenson (Oklahoma) – 23 anos / 1,83 m / 111 kg
Detentor de agilidade e ligeireza raras para seu tamanho, Stevenson, que, direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, foi uma das causas da transferência de Trey Sermon para Ohio State, é praticamente um running back em corpo de full back.
Destacando-se no bloqueio para o passe, os bons atributos do ex-camisa 29 dos Sooners não se limitam a isso, na medida em que possui tempo e visão de jogo que, inclusive, permitem-no participar do jogo aéreo com mais frequência do que se pode imaginar.
Caso seja selecionado por uma equipe que lhe permita tomar vantagem de seu estilo de jogo pouco visto em corredores com peso semelhante, pode vir a se tornar uma peça muito interessante para o respectivo ataque e, principalmente, para o time de fantasy de quem nos lê.
Comparação NFL: Malcolm Brown com teto de Michael Turner
Destino ideal para o fantasy: Buffalo Bills
TIER 5: Números e biotipo interessantes
9) Chuba Hubbard (Oklahoma State) – 21 anos / 1,83 m / 94 kg
Mesmo sem demonstrar atleticismo ou atributos que saltem aos olhos quando se assiste à sua tape, o canadense, natural de Edmonton, conta com estatísticas de respeito, traduzidas, principalmente, em suas 2.292 jardas totais em 13 jogos na temporada de 2019, sendo 2.094 delas pelo chão.
Ao mesmo tempo, o volume de toques que experimentou para chegar lá – com 328 corridas apenas em seu ano de sophomore – podem cobrar o preço da durabilidade no nível profissional, sendo que, em 2020, passou longe de repeti-los, ainda que em média, já que tivemos um número reduzido de jogos em função da pandemia.
Se não possui grande aceleração ou tamanho ideais para a posição no mais alto nível, Chuba apresenta boa velocidade de chegada quando consegue “engatar a quarta para quinta marcha” em campo aberto, o que lhe dá a perspectiva de, no esquema e ambiente ideais, poder tornar-se um playmaker com algum impacto na liga profissional e, consequentemente, no fantasy.
Comparação NFL: Tevin Coleman com teto de Miles Sanders
Destino ideal para o fantasy: San Francisco 49ers
10) Khalil Herbert (Virginia Tech) – 23 anos / 1,75 m / 96 kg
Confiável e inteligente dentro de suas limitações atléticas (tendo como parâmetro jogadores que atuam no mesmo nível, sempre é bom deixar claro), Herbert tem o corpo construído de forma interessantíssima.
Com muita força nas pernas e ainda mais no tronco, o ex-camisa 21 dos Hokies surge quase como o protótipo ideal de early down back.
Contudo, a falta de atributos atléticos que o distingam do restante da classe tende a colocá-lo na rota da maioria dos corredores da NFL, ou seja, a condição de reserva ou, no máximo, RB rotacional de comitê.
Comparação NFL: DeAndre Washington com teto de Jonathan Stewart
Destino ideal para o fantasy: Seattle Seahawks
Menções honrosas: Demetric Felton (UCLA), Jermar Jefferson (Oregon State), Pooka Williams (Kansas), Gerrid Doaks (Cincinnati), Javian Hawkins (Louisville) e Jaret Patterson (Buffalo)
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