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Notas de Rodapé para o Draft 2022

Para um jogador casual de fantasy football, todo ano traz uma nova oportunidade para reconquistar um título ou ir melhor do que na temporada anterior. Já para um analista, a passagem de uma temporada para outra envolve diversos outros fatores, mas sobretudo a revisão das ideias desenvolvidas até aquele momento, a evolução do seu próprio processo de análise da NFL e suas várias camadas, e escolher uma nova direção a apontar.

Este artigo não é o mais apropriado para fazer a prestação de contas de 2021, mas vou trazer um dos tópicos para ser o pano de fundo da discussão do meu ranking para 2022.

Eu ainda não sei fazer Zero RB.

[05/08/2022] Disclaimer sobre Zero RB: como esta é uma estratégia ainda em incursão no Brasil, cabe dizer que é muito difícil que você veja running backs caindo para além da “dead zone” (após a 6ª/7ª rodada), então prestar atenção no fluxo do seu draft é importante para não perder possíveis corridas na posição. Trouxe este adendo após feedback do Renan, amigo do Brasileirão de Fantasy, organizado pelo Túlio Barbosa, o maior comissário do Brasil.

Estratégias consolidadas precisam ser estudadas por nós para trazer resultados positivos, e eu não fiz um bom draft no Scott Fish Bowl do ano passado tentando usá-la. Claro, tive um conjunto excepcional de wide receivers por boa parte da temporada, mas tive ZERO upside com os running backs que peguei.

Apesar de ter ido longe na competição, não considero que fiz o melhor que pude fazer, ainda mais quando me considero um analista de fantasy! De todos os running backs que draftei, somente Melvin Gordon e Devin Singletary (o último em parte da temporada) produziram algo de fato. O momento de escolher os jogadores, e principalmente qual jogador valorizar, é fundamental em qualquer draft.

Este ano eu acredito que fiz um trabalho mais equilibrado. Veja a comparação dos elencos:

20212022
Andy Dalton QBTom Brady QB
Jimmy Garoppolo QBTyler Huntley QB
Patrick Mahomes QBAaron Rodgers QB
Carson Wentz QB
Salvon Ahmed RBMatt Breida RB
Tevin Coleman RBEzekiel Elliott RB
Melvin Gordon RBHassan Haskins RB
Carlos Hyde RBDavid Johnson RB
Ronald Jones RBAaron Jones RB
Sony Michel RBTrey Sermon RB
Devin Singletary RBKenneth Walker III RB
Damien Williams RB
Marquise Brown WRRashod Bateman WR
Brandin Cooks WRTyler Boyd WR
Tyreek Hill WRBrandin Cooks WR
DeAndre Hopkins WRWill Fuller WR
Justin Jefferson WRMichael Pittman WR
Terry McLaurin WRJalen Tolbert WR
Courtland Sutton WRChristian Watson WR
Jack Doyle TEAustin Hooper TE
James O’Shaughnessy TECole Kmet TE
Ricky Seals-Jones TELogan Thomas TE

Enfim, meus rankings deste ano trazem um pouco das reflexões vindas deste e de outros aprendizados de 2021, um dos meus piores anos de fantasy, mas que ensinaram muita coisa, pode acreditar.

Quarterbacks

Quanto menos pontos por recepção, mais importante é a posição de QB no total de pontos que você pode marcar numa semana, já que o PPR cria um piso alto para os recebedores, algo que só running backs de três descidas costumam ver e quando recebem passes também. Para atingir 20 pontos (piso de um QB excelente numa semana) numa liga standard, por exemplo, um wide receiver precisa de

  • 200 jardas e 0 TD;
  • 140 jardas e 1 TD;
  • 80 jardas e 2 TDs…

Você entendeu. Isso vai melhorando conforme se premia o recebedor pelo seu volume de recepções. Já o QB tem produção garantida em qualquer formato, mas poucos são aqueles que toda semana têm teto alto.

Estou baixo no Patrick Mahomes e mais ainda no Joe Burrow.

Não é desrespeito pelas jovens estrelas de KC e Cincy, respectivamente, mas é que duas coisas pesam muito para mim em matéria de QBs no fantasy: jogo corrido e correlação vitórias / pontos fantasy.

Deve ser óbvio para o fã de NFL que Mahomes e Burrow, embora saibam usar as pernas, fazem isso com menor frequência que alguns de seus pares (Allen, Jackson, Hurts, Murray, Lance, Fields…) e, na minha visão, o jogo terrestre para QB é teto e não piso. Assim, os dois craques, apesar de terem piso alto no jogo aéreo, não oferecem o diferencial que esperamos.

Outra questão é a correlação vitórias / pontos fantasy, que já falei muitas vezes por aí: quanto mais vitórias, mais pontos e aparições no top-12 semanal um QB titular tende a ter. Este ano eu não acredito que Mahomes e Burrow devem ter um caminho tão fácil quanto o de 2021, o que traz maior dificuldade para sua respectiva produção no fantasy.

Em tempos de konami codes, não dá mais pra ser “late-round QB”.

O próprio autor da teoria, JJ Zachariason, viu o mercado se ajustar aos seus estudos, publicados há uma década:

Não é à toa que meu ranking mais recente tem cinco konami codes nas seis primeiras posições. Se os Bears fossem com certeza um time vencedor para este ano, Justin Fields teria minha mais alta consideração também.

Se você deixar para pegar seu QB para o final do draft, dificilmente vai acabar com um jogador capaz de lhe entregar 20 ou mais pontos toda semana, porque os QBs playoff-caliber muito provavelmente já terão ido embora.

Running Backs

Todo mundo tem sua definição de Zero RB, inclusive aqueles que levam ao pé da letra (não levem esse pessoal a sério). A verdadeira origem está no artigo do Shawn Siegele. A estratégia, cada vez mais discutida e aprimorada por analistas do mundo inteiro, encontra em 2022 um cenário mais fértil que nunca, tendo bons nomes para preencher os spots titulares.

Eu, por exemplo, tenho testado a estratégia em diversos drafts nesta offseason mas ainda estou aprendendo, pois, apesar do nome sugestivo e simples, ela exige experiência e atenção ao board para não deixar RBs mais baixos, porém relevantes, escaparem e deixarem seu time capenga.

Pra mim, é CMC ou nada na 1.01.

Fantasy é um jogo de teto antes do piso, senão eu seria o maior advogado de Brandin Cooks nas primeiras 3 rodadas (pelo seu alto piso todo ano). E CMC, além do piso, tem o maior teto entre todos os jogadores fantasy em qualquer formato.

Veja, é tão justo quanto isso você ir de Jonathan Taylor na 1.01, afinal ele foi o RB1 de 2021 e estatisticamente um RB1 geral num ano termina no top-10 no ano seguinte se não sofrer lesões, logo JT é garantia de piso alto em condições ideais. Só que eu quero maximizar minha probabilidade de vencer e ainda ter consistência garantida na posição.

Javonte Williams RB20?

O segundanista dos Broncos tem um grande potencial a ser explorado e seu teto é gigante, como vimos na única partida livre de Melvin Gordon ano passado, porém ele ainda não está sozinho no backfield, pois o time renovou com Gordon por mais um ano e ele não é o primeiro caso de RB chegando aos 29 anos com lenha pra queimar (LeSean McCoy, Matt Forte e DeMarco Murray que o digam).

Até ver o time disposto a fazer de Javonte o bellcow do time, prefiro não contar com ele como meu RB1 nos drafts.

Ronald Jones > Clyde Edwards-Helaire.

[05/08/2022] Os reports do training camp não são muito animadores para Ronald Jones, e eu já puxei CEH para a frente dele no meu ranking, porém mantenho as afirmações anteriores aqui no artigo.

Eu nunca pensei que voltaria a falar positivamente de RoJo um dia, mas, guardadas as devidas proporções, sua mudança para os Chiefs me obriga a fazê-lo, já que ele compete agora com Clyde Edwards-Helaire pelo backfield dos Chiefs.

Tudo bem que Kansas City não tem sido um lugar amigável para o jogo corrido ultimamente, e justamente por isso acredito que Jones possa buscar um novo upside, tendo algumas carregadas no comitê, mas sobretudo pegando passes de Patrick Mahomes. Assim como fiz com o próprio RoJo em Tampa, eu não tenho mais saco para CEH em KC.

Wide Receivers

A evolução da liga na direção de passar mais e melhor a bola faz com que mais recebedores estejam mais presentes em campo, favorecendo os pacotes 10 (backfield vazio, 1 TE) e 11 (1 running back, 1 TE). Com isso, a briga por alvos é maior entre wide receivers a cada ano que passa, bem como é mais raro encontrar um WR alfa de verdade (30%+ de alvos do time).

Estas mudanças criam, junto com a antifragilidade (base do Zero RB, supracitado), uma profundidade crescente na posição de WR, em que devemos prestar atenção e aproveitar oportunidades principalmente na chamada “running back dead zone“.

Courtland Sutton é WR1 pra mim.

Mas não é para o consenso de experts mundo afora. Eu acredito no jogador desde antes de sua lesão em 2020, ainda mais agora com um QB de verdade em Russell Wilson: vejam o que aconteceu com Cooper Kupp após a parceria com Matthew Stafford nos Rams. Não acredito que Sutton tenha potencial para ser O WR1, mas certamente os TDs virão em sua direção nesta temporada.

Estou pronto para o declínio de Keenan Allen.

Quem me conhece sabe que eu sou fã do jogador, então é difícil e um tanto doloroso afirmar isso, mas analista tem que acreditar no gut feeling quando vem, e uma das coisas que tenho repetido nesta offseason é que Mike Williams (meu WR18) deve tomar o posto de WR1 dos Chargers esse ano.

Brincar com calouro tem hora?

Nem todo wide receiver calouro é um Ja’Marr Chase em 2021 ou um Justin Jefferson em 2020 ou um Odell Beckham em 2014 (três alunos de LSU que saíram na primeira rodada de seus drafts, percebeu o padrão?). Logo temos que conter as expectativas com a classe desse ano, que viu vários nomes saindo na primeira rodada do último draft.

Ainda assim, os first rounders Drake London, Treylon Burks, Chris Olave, Jahan Doston e Garrett Wilson, além de Jalen Tolbert, merecem uma vaguinha no seu elenco, principalmente se você começou forte em RBs e perdeu a leva dos melhores recebedores.

O que fazer com Gabriel Davis?

Eu não comprei a hype em cima do Gabriel Davis nesta intertemporada. OK, ele explodiu nos playoffs, sobretudo naquele jogo de 200 jardas e 4 TDs contra a “maravilhosa secundária” dos Chiefs, mas será que fazer de Gabriel Davis o WR29 (segundo o ECR do FantasyPros) é uma realidade? Talvez ele tenha esse teto no longo prazo, mas não sei se ele tem esse piso toda semana num ataque capaz de fazer qualquer jogador ir bem.

A única certeza que temos nos Bills é a conexão Josh Allen – Stefon Diggs, cada ano mais aprimorada, enquanto Davis tem em Dawson Knox um concorrente direto pelo sucesso semanal no fantasy (a exemplo da batalha Irv Smith vs KJ Osborn em Minnesota). Isso pra não falar em James Cook recebendo passes no backfield, mas deixo essa pra outro dia.

Tight Ends

Se, por um lado, QB fica menos importante em liga PPR, tight end elite fica bem mais relevante. Eles não são determinantes para o sucesso do nosso time, mas como temos confrontos toda semana, a pontuação deles pode ser o fiel da balança entre dois times competitivos. Cabe a nós usar uma estratégia com eles (ou várias, se perdermos um jogador top por lesão).

Se você se garante, pegue um tight end cedo.

No meu top 30 de tight ends, eu estou com o consenso em 6 nomes, incluindo os cinco primeiros do ranking; o outro é Mike Gesicki (#13). O que quero dizer é que Travis Kelce, Mark Andrews, Kyle Pitts, George Kittle e Darren Waller são muito melhores que os demais da posição, garantem um diferencial para o seu time e são insubstituíveis em sua utilização como alvos 1A ou 1B de seus times. Saindo destes nomes, você tem que apostar em pegadores de touchdown basicamente, e fazer stream é um saco na posição.

David Njoku é o principal candidato a breakout esse ano.

A incerteza que paira o Cleveland Browns, somada ao contrato recém-assinado por Njoku faz dele um jogador importante para a franquia e, portanto, relevante para o fantasy. Fiquei surpreso de vê-lo como meu TE10 (DEZ posições acima do consenso) após a minha revisão dos rankings pessoais e isso é muito animador para ele em meio à posição mais volátil do fantasy. Será que o volume e os TDs virão de mãos dadas pra ele? Eu estou otimista.

Pat Freiermuth é uma farsa?

O então calouro Freiermuth pegou sete passes para TD nos Steelers em 2021, seis a mais que Kyle Pitts, único colega de posição que saiu antes dele no draft daquela temporada. Mas não acredito que ele terá a mesma sorte esse ano, ainda mais um ataque de QB(s) novo(s). Pat é um jogador talentoso, mas essa dependência, além de não ser projetado como um dos dois alvos principais do time, me faz tê-lo no intervalo dos tight ends do stream e não dos draftáveis.


Se possível, faça seus próprios rankings antes de partir para os drafts; este ano, a paternidade me fez buscar a estratégia (e as prateleiras) ainda mais, para antecipar o processo de pensamento e não ter de fazer escolhas no susto quando estiver no relógio.

Revisar os tantos nomes espalhados pelos elencos da NFL nos faz perceber quem queremos e não queremos em nossos elencos, o que produz um ranking bem mais condizente com nossas próprias crenças sobre o jogo real e virtual, e isso nos deixa de consciência limpa na hora de deixar um medalhão passar ou de dar reach em um atleta que gostamos, mas não está tão cotado pela maioria da comunidade.