Todo ano a gente aprende coisas novas na vida; no fantasy football não é diferente. Nós caçamos stats, mas o jogo é baseado no elemento humano: decisões de GMs, técnicos, jogadores… Toda informação conta para sermos melhores no football “de mentirinha”.
Já falei um pouco de acertos e erros nas prestações de contas, que você pode ver mais aqui no site, mas destaco aquela das notas de rodapé, em que abordei parcialmente alguns elementos que veremos em maior profundidade aqui.
Pegar QB de elite cedo vale a pena?
Mahomes, Hurts, Allen e Burrow pontuaram bem distante dos demais na última temporada e foram difference-makers para quem os tinha.
Devemos então seguir uma abordagem focada em pagar alto por um dos principais nomes da posição de quarterback no fantasy?
A estratégia Late Round QB já tem pouco mais de dez anos de criada por JJ Zachariason e, desde então, provocou profundas mudanças na forma de abordar QBs em draft. Desde então, muitos outros estudos foram feitos, com destaque para o Konami code de Rich Hribar, que privilegia sair do draft com um QB que corre muito com a bola, e que tem sido muito eficaz nos últimos anos.
- Como resultado, os jogadores estão mais espertos e reconhecendo o valor dos melhores QBs em relação aos demais sem necessariamente pagar um preço absurdo no draft.
Passada a teoria, vamos à prática:
Late Round QB
Utilizando os dados de ADP do MyFantasyLeague (de 2013 até 2022), temos os seguintes fatos:
- Patrick Mahomes e Josh Allen nunca foram reach. E eles vão demorar a não entregarem o que seu ADP indica.
- Os league-winners (média acima de 20 pontos em 8+ jogos) saem entre a segunda e a oitava rodada. A partir da nona, muito provavelmente você está fazendo stream no draft e não sabe.
- Desde 2013, metade destes QBs saiu até a quinta rodada.
- Somente seis (de quarenta e nove, 12%) saíram a partir da décima rodada.
O próprio JJ já admitiu que, com a mudança de comportamento dos jogadores de fantasy, a estratégia de late rounds (rodadas tardias) vem dando lugar a outra, de middle rounds (rodadas médias), já que é difícil um QB de teto alto passar despercebido num tempo em que há tanta informação disponível sobre o jogo.
Konami Code
- Entre os QBs top-10 de média de pontos numa temporada (8+ jogos), o número de QBs que correram 15% ou mais das tentativas de seus times saltou de 3 em 2012 para 8 (OITO) em 2022.
- 15% das corridas de um time oscilam entre 40 e 90 carregadas. Um QB que corre muito passa de 20%, ou seja, superando 100 corridas.
- Não adianta um QB correr e não pontuar com o braço! Veja o caso Lamar Jackson do ano passado: ainda um corredor elite entre QBs, mas com um corpo de recebedores reduzido a um Mark Andrews baleado num time que não conseguia evoluir o jogo de passes.
- 75% dos league-winners entregaram 17+ pontos de passe (só no braço).
Calouros
- Somente quatro calouros desde 2012 foram produtivos por terra e ar (média de 10+ pontos de passe, 4+ pontos de corridas) desde 2012: Russell Wilson, Robert Griffin III, Kyler Murray e Dak Prescott.
- Com raras exceções, a primeira temporada de um QB é apenas um termômetro de seu potencial como Konami code, a exemplo de Josh Allen, Lamar Jackson e Justin Fields.
- Este último ainda não deu o salto de qualidade no jogo aéreo, mas foi o único top-12 no período que entregou menos de 10 pontos aéreos por jogo enquanto teve produção terrestre em nível Lamar Jackson MVP.
O que fazer com QBs então?
- Se não há um grande valor totalmente oculto dos seus concorrentes no ADP, você deve garantir um QB de elite, desde que você tenha feito um bom início de draft que lhe permita adicionar valor ao invés de correr atrás dos seus adversários.
Lesões, Zero RB e afins
Em qual posição uma lesão produz mais facilmente um league winner? Geralmente é entre os running backs, daí um dos pilares do Zero RB.
Portanto, se um Cooper Kupp perde a temporada, é pouco provável que um Ben Skowronek seja “o próximo Cooper Kupp”. Esse é outro argumento favorável à estratégia de Shawn Siegele, criador da Zero RB. Não me lembro de algum wide receiver que tenha crescido muito em volume e produção no fantasy após um companheiro, líder do time, se lesionar seriamente.
No caso dos Rams em 2022, ficou para Tyler Higbee, tight end, a maior oportunidade de crescer em importância no ataque.
- Ser robusto em recebedores de topo é uma resiliência extremamente necessária ao seu time e que paga dividendos, sobretudo em ligas que pontuam recepções e possuem flex.
Running Backs
Siegele dizia em seu artigo original que tinha por preferência RBs recebedores e reservas imediatos em suas equipes Zero RB.
Em ligas ppr faz todo o sentido, já que o piso de um RB recebedor é mais alto que o de outros “batedores” reservas que não oferecem esta dimensão aérea em seu jogo.
Precisamos lotar nosso banco de RBs “Zero RB“? Não necessariamente, ainda mais se houver um jogador de outra posição que ofereça mais valor (um WR2 de um ataque explosivo, por exemplo, ou aquele QB Konami code esperando por você na segunda metade do draft).
Tenho como objetivo em 2023 dar mais um passo em direção a utilizar melhor a estratégia Zero RB, o que inclui:
- Avaliar melhor os RBs na offseason e identificar bons valores em rodadas mais baixas (como foram Josh Jacobs, Tony Pollard, Rhamondre Stevenson e Ken Walker).
- Atacar o ADP para não perder estes RBs para outros competidores que adotam estratégia similar – talvez a única justificativa para dar um reach seja evitar que alguém dê uma tesourada no seu board.
Calendário importa?
Em best ball, com certeza.
Já em redraft, é um preciosismo. Ainda assim, ver se um time tem um caminho mais fácil ou mais difícil pode lhe ajudar a escolher stacks de jogadores que sejam interessantes mesmo fora de uma liga best ball, afinal o ponto de lá é o mesmo de cá, a diferença é que em uma você escala o time e na outra não.
Por exemplo: os Eagles foram o bicho papão da NFC ano passado, mas convenhamos que parte desse sucesso se deve a ter tido a AFC South pra varrer (e fizeram o mesmo com a NFC North, que não é tão fraca assim). Contra essas duas divisões apenas, Jalen Hurts marcou mais de 200 pontos, enquanto os wide receivers marcaram perto dos 300!
Da mesma forma, os Bengals tiveram a NFC South de presente na última temporada: Joe Burrow e Joe Mixon passaram de 100 pontos e os wide receivers quase alcançaram 200 jogando contra Bucs, Saints, Falcons e Panthers.
Não existe time bobo na NFL, mas também não haveria placares elásticos se não houvesse um time muito melhor que outro. Portanto não traz prejuízo esse pequeno exercício de ver quem pode vencer mais jogos e, assim, impor seu poderio ofensivo.
Peguei a defesa de Baltimore ano passado no draft e…
…nada de mais.
A defesa dos Patriots não é absurda todo ano em fantasy, que dirá as demais. Assim não importa muito a defesa que você selecione no draft, é difícil que ela seja o diferencial na sua temporada.
- Acompanhe os artigos de stream de defesas do Sérgio! Vale muito mais a pena olhar o calendário, as defesas livres e escolher, dentre elas, quem vai pegar a baba da semana. E isso ainda vai lhe render uma pick extra no draft!
- Exceção: ligas best ball, já que algumas não vão ter waiver boa o bastante para a estratégia.